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Hoje, fizeram-me uma pergunta. Uma simples pergunta. – Porque escreves? Acho que vos devo a resposta. A vós, que também se vestem das palavras – as minhas -, mas que, tantas vezes, são as vossas. Escrevo desde sempre – também contam aqueles guardanapos de café e os cantos das toalhas de papel dos restaurantes, não contam? Numa primeira análise escrevemos para nós. Escrevemos para fora o que sentimos cá dentro. Escrevemos, essencialmente, para nos conhecermos. A nós. Nós – que vivemos connosco, todos os dias, não nos conhecemos desde logo – e desconfio que uma grande parte das pessoas nunca se chegam, realmente, a conhecer. É quando te conheces a ti que começas a conhecer, verdadeiramente, o mundo. E é, aí, que começa a grande viagem. É aí que começas a fazer as pazes contigo. Porque acredito que todos tenhamos pazes a fazer connosco. Escrever permitiu-me isso – e ainda me permite. Por as coisas no sitio certo. Guardar o tem de ser guardado, deixar o que tem de ser deixado e consolidar o que tem de ser consolidado. Depois, bem, depois vem esta inquietude d’alma. Esta insatisfação natural que nos obriga a expressar, seja de que forma for. Acontece a todos aqueles a quem não lhes chega só «isto». Acontece quando o sentir é subcutâneo; quando transborda; quando não cabe mais no peito; quando tem de sair. Gosto de vestir as palavras. De lhes dar cheiro. De as tornar leves ou de lhes conferir dureza. Gosto desta sensação de sentir que são elas que me guiam, mesmo que continue convencida que sou eu que as encaminho. E por fim vem a mensagem. Vem o ensinamento que extraímos para nós. Encontramo-nos com as respostas que nem sabíamos que lá estavam. E vem, essencialmente, este prazer, no seu estado mais puro, que é saber que escrever deixa de ser um acto de solidão a partir do momento em que te apercebes que, afinal, escreves pelas mãos de tantos nós.