Imagem de capa: Gabriela Insuratelu, Shutterstock
Acredito que vivo desenhando “olhos” porque sou muito visual. É aquela velha história do ver para crer, sabe? Eu preciso ver para ser. Tenho uma fobia insana de olhos vendados ou negrume extremo, mas aceito de bom grado aquela luz indireta, que ilumina fracamente a taça de vinho, já borrada de batom. Sempre lidei bem com contatos visuais, boy. Não sou daquelas que desvia os olhos facilmente, quando percebe que estão encarando de volta. Eu seguro. E esse jogo sempre foi bom para mim. Assim. Olhos nos olhos, fixos, enquanto o corpo ensaia uma dança que a íris não acompanha. Mas funciona.
Ou, ao menos, funcionava.
Você veio cheio de malícia e sussurros, cutucando minha alma com frases feitas e baratas, mas que são uma delícia de ouvir. Confesso que foi estranho fechar os olhos e imaginar cenários porque, como te contei, eu preciso ver para ser. Eu preciso ver para sentir.
Ou, ao menos, precisava.
Eu seguro a taça de vinho, já vazia, em minhas mãos e reviro os olhos. Você sussurra na base do meu ouvido, roçando levemente a barba em minha nuca fria. Um arrepio bom desce pela espinha e eu teimo abrir os olhos e te encarar. Você puxa meus cabelos com força comedida, erguendo minha cabeça para cima.
— Não! — você diz e eu obedeço. Porque a sensação de não (te) ver intensifica o prazer que reprimo.
Não vendo, acabo sendo. E assim sendo, sou mais eu do que há tempos não era. É fato que eu já não me pertencia, mas agora me pertenço.
Recomeço(amos).
E é tudo culpa tua.