Imagem de capa: Petrenko Andriy, Shutterstock
Não temos o dever de esperar pelo outro, enquanto ele fica lá longe realizando seus sonhos, sem nós, por tempo indeterminado, que então passivamente assistimos, como meros espectadores, do outro lado da telinha, às conquistas que poderíamos – e deveríamos – estar desfrutando junto.
Nossa vida é feita de escolhas, nem sempre doces, nem sempre amargas. Muitas vezes, nossa escolha implicará termos que deixar para trás algo que já é certo, que faz parte de nossa jornada, para que possamos caminhar em outras e novas direções. Essa tomada de decisão nunca será fácil e, quando envolver o desapego, o abrir mão de, aí tudo se tornará pior, pois o que decidirmos poderá mudar as coisas, sem que possa haver volta.
Ninguém está livre de, repentinamente, ver-se diante de alguma proposta tentadora de emprego, de estudo, de ser convidado para iniciar novos projetos em algum lugar bem distante, em outra cidade, em outro país. Da mesma forma, ninguém está livre de se sentir entediado e insatisfeito com a vida que leva, ambicionando uma vida outra, totalmente oposta ao que tinha até então. Seja por conta de propostas ou de sonhos pessoais, certo é que a vontade de mudar pode surgir a qualquer instante.
Nesses momentos, muitos de nós estaremos diante de um grande dilema, uma vez que nas oportunidades talvez não possa caber ninguém mais além de nós, ou seja, teremos que optar por aceitar ou não uma nova jornada, mas deixando para trás um parceiro, um lar, amigos, toda uma vida anterior. É como se fôssemos começar do zero, embora nossas vidas já estivessem preenchidas, inclusive nossos corações. Assim, aceitar o novo significará uma ida solitária, somente com nós mesmos, nada nem ninguém mais.
A questão é que não temos o dever de esperar pelo outro, enquanto ele fica lá longe realizando seus sonhos, sem nós, por tempo indeterminado, que então passivamente assistimos, como meros espectadores, do outro lado da telinha, às conquistas que poderíamos – e deveríamos – estar desfrutando junto, a menos que assim o desejemos. A distância física demorada acaba por provocar o afastamento emocional, o arrefecimento da carga afetiva, porque simplesmente a gente se acostuma tanto com a presença quanto com a ausência. Isso é sobrevivência.
Como se vê, quanto mais vivermos, mais escolhas teremos pela frente, mais renúncias, ganhos e perdas acumularemos, pois é assim que a vida age, chacoalhando, incitando, promovendo o novo, mas quase nunca de uma forma tranquila. Optar sempre será doloroso, simplesmente porque, ao escolher algo, alguma coisa será preterida. É preciso que tenhamos clareza quanto à importância real de tudo e de todos que fazem parte de nosso caminhar, para que não deixemos para trás justamente aquilo que nos alimenta a alma.
Como dizem, a fila anda, e anda tanto para quem vai lá na frente, quanto para quem está no final dela. Podemos ir, sim, mas, quando voltarmos, possivelmente nada mais será como antes.
Me identifiquei muito com as verdades escritas no seu texto. Muito obrigada!