Imagem de capa: Peter Bernik, Shutterstock
Coisa irritante é ter que lidar com gente que adora distorcer o que a gente fala. A convivência vai ficando muito complicada quando o outro pega o que dizemos e passa no seu próprio moedor mental de repertório, tempera com suas próprias emoções, e usa a nossa fala em seu próprio benefício.
Nessas circunstâncias o que pode ser feito é ouvir a si próprio atentamente, antes de aceitar de forma condescendente o que vem do outro, por meio de suas opiniões e crenças prontas.
Além disso, é bom enfiar na cabeça uma coisa: se outro estiver a fim de dar um nó cego naquilo que você falou não há Nossa Senhora Desatadora de Nós que dê jeito.
Feita a reflexão, você estará quase pronto para o próximo estágio, que é aceitar serenamente que uma coisa é o que você fala, outra coisa é o que o outro entende, e outra coisa, ainda mais perturbadora é o que o outro escolhe entender.
A interpretação alheia acerca de nossas exposições é uma verdadeira caixinha de surpresa, dentro da qual tanto pode vir uma joia valiosa, quanto um cascalho desgastado por toda aquela água que tinha para rolar debaixo da ponte, e que já rolou.
E o que tem de gente que faz questão de não entender o que dizemos é de arrepiar o umbigo, bem naquele lugarzinho que a gente se esconde quando também faz questão de deturpar falas alheias em nosso próprio benefício. Afinal de contas, pisar na bola não é privilégio de ninguém, certo? E todo mundo tem seus dias de ver o mundo lá de cima ou lá de baixo.
É, colega, como diria a minha avó “Tudo o que sobe, um dia há de descer!” – sem exceção -, tirando os níveis de canalhice no mundo. Sim, porque esses sobem verticalmente na velocidade da luz.
Mas… Supondo que você tenha feito um voto em benefício da honestidade, lealdade e justiça. E que venha honrando esse voto. Baseado nessa honra recém-conquistada, você escolheu praticar aquelas maravilhas todas sobre as quais sempre discursou com tanta desenvoltura e considera-se apto para dizer ao seu semelhante próximo o que lhe vai na alma.
Então você escolhe bem as palavras, dá uma boa polida nelas e revela seu coração e sua mente para aquela pessoa difícil, com a qual é um desafio gigante manter uma conversa. Tudo devidamente organizado em pensamento, você abre as comportas. É sua tentativa de “limpar ruídos na comunicação”.
A criatura fica ali imóvel, uma caricatura malfeita da Monalisa. Não dá nenhuma pista para te ajudar a entender se o seu discurso de peito aberto foi ou não foi compreendido. Nada. Silêncio total. É nessa hora que você decide encurtar o papo que, a essas alturas já virou um constrangedor monólogo.
Fim de “conversa”, cada um toma seu rumo e vai cuidar da sua vida. Você até procura esquecer que foi solenemente ignorado. Supera.
Até que, um belo dia, você é surpreendido por uma espécie de filme ruim, desses que só passa na Sessão da Tarde. E vê, estarrecido, saírem da boca do seu outrora interlocutor, aquelas palavras que com tanto esforço você compartilhou, só que deformadas.
O que era “não” virou “talvez”, o que era “talvez” virou “sim”, o que era “sim” virou “sei lá”, e o que era “sei lá” virou lá qualquer outra coisa sobre a qual você não faz a menor ideia de origem ou significado.
Numa hora dessas, a primeira melhor coisa que se pode fazer é manter silêncio. O silêncio é a resposta mais justa que podemos oferecer àqueles que fizeram de nossas palavras tecidas em sentimentos, trapinhos distorcidos, sem nenhum constrangimento.
A segunda melhor coisa? A ausência. Dê seu melhor sorriso, limpe dos pés a poeira do ressentimento e saia de cena. Deixe o desonesto manipulador falando sozinho. Ele merece!
Linda essa sua forma de escrita.
Recentemente, eu venho sofrendo com isso na faculdade. Espalharam boatos que eu queria cometer suicídio, sendo que sequer falei algo sobre isso, nem mesmo brincando. Não sei se riu ou se caio em prantos.
O engraçado é que descobri que foi uma colega que já não me tratava muito bem antes, mas que eu deixava esses atos rudes serem esquecidos.