Imagem de capa: InesBazdar, Shutterstock
Mas, num ano em que tudo caminhou contra? A resposta é sim!
Fui atropelada por uma enxurrada hostil de decepções, tive a Fé posta à prova por incontáveis vezes. Conheci o lado não tão agradável do ser humano, bem como sua capacidade em dissimular, e me vi intolerante. Conheci os dois lados da moeda em uma notabilidade breve. Experimentei o deslize da descrença no amor e a ilusória delícia de não sentir absolutamente nada! Também pulei fora da racionalidade e da sensibilidade. Dei o peito e levei golpes homicidas da vida pra voltar pro meu lugar.
Saboreei o gosto amargo de lágrimas que escorreram lacerando minha pele até o peito e o lado aposto do travesseiro que a face tentou atravessar, tamanha dor. Tomei decisões erradas. Tentei voltar atrás. A vida me mostrou que o sentido é para frente. Procurei num ato desesperado pelo amor divino, e suas facetas.
E depois de tudo isso, a minha palavra para este ano é, sem dúvidas, gratidão!
Quando me vi abandonada às traças com todas as deliberações errôneas, aprendi sobre compaixão. Me perdoei. Olhei para mim com os olhos mais apaixonados que já tive. Admirei os meus sapatos e meus pés, que embora cansados e doloridos, peregrinaram forte e decididamente até aqui.
Nas aventuras de uma notoriedade repentina e cabreira, tive conhecimento do quanto o amor próprio ilumina e atrai todo aquele que o sente, que o recebe em vibração… Mas, também aprendi que nem todos que se aproximam, carregam consigo boas intenções, e alguns além de não acrescentar, ainda sugam toda sua maravilhosa energia.
Nessa fase, também fui apresentada ao vazio que ronda o ser humano apoderado de desapego. E tudo aquilo que não fui criada pra ser, alguém totalmente desprovida de ternura. Ser desejada é deleitável, mas um terreno árido demais para semear. Nem todos que te olham, te enxergam. Olhar é raso, enxergar é mergulhar profundo.
Quando me obrigaram a silenciar os chamados do mundo insano lá de fora, senti a vontade avassaladora de me transbordar, pertencer à alguém, e aprendi também o quanto nossas vontades podem ser cruéis e perigosas. Elas nos cegam. São ótimas em enganar.
Quando meu telefone não tocou, quando não recebi nenhum convite amigável para abandonar o aconchego do meu quarto, meu olhar foi obrigado à viajar ao meu redor, e perceber que os únicos que merecem meu total apreço, admiração, respeito, e amor pertencem ao laço mais grandioso da vida: família!
Quando sofri o desdém do mundo, aprendi que só encontro amor leal em Deus. Vi sua face grandiosa. Abri o coração e o deixei entrar, sem barreiras nem licença. Aprendi através dos seus instrumentos à olhar com mais sabedoria para tudo que me ocorreu, à olhar com mais carinho para a imperfeição humana. Cresci em glória.
Sofri suas demoras com honra e me vi dona de uma força que nem mesmo sabia que era capaz. Suportei com garra os dias que se arrastavam tentando me convencer que era pequenina demais para tamanha cruz. Carreguei. Com orgulho e raça, e quando não, me permiti descansar no colo do Pai, aprendi meus limites. Me presenteei com o direito de ser circunscrita.
Quando pensei que fazia errado tentando amar aqui fora, Deus me mostrou que para cada filho Ele designou uma missão, à mim, talvez, tenha designado amar no mundo. E que isso não faz de mim uma filha desobediente ou rebelde, mas maciça o suficiente contra a perversidade humana. Também fui instrumento em algumas vidas, pessoas que depois de partirem, voltaram para me certificar e agradecer.
A dureza dos últimos 365 dias, me fez regressar às noites de lamento ao pedir o que hoje tenho. A cura de uma doença sem esperança. Um casamento salvo pelas mãos divinas. Um amor. Entre tantas coisas que aos olhos descrentes de um ser pessimista, não são grandiosas. Eu as vi desabrochar diante de minha robusta Fé. A falar sobre o amor, me recordo das vezes em que o materializei. Pintei em aquarela todas as suas façanhas. Por tanto, não ouso perguntar “como?”, eu sei de onde veio. O universo me ouviu. Deus atendeu minhas preces.
Nem tudo se alinhou. Mas, que graça teria acordar sem ter nada para “arrumar”? De todas os tropeços, vieram recomeços. De toda desesperança, um novo olhar. De toda queda, várias lições.
Então termino, esse texto e meu ano, com esse baita sorriso, na boca, na alma e no coração, repleto de gratidão por TUDO o que me foi presenteado. Por cada lágrima. Cada dor. Cada reza plantada baixinho, no retiro do meu mais profundo particular. Por cada prece ouvida e atendida. Pelas demoras. E pelas alegrias, que embora, isoladas e aparentemente pequeninas em quantidade, engrandeceram e fizeram valer a pena a marcha de cada dia.
Luz. Eu emano e te desejo. Para fazer brilhar teu mundo, e tudo o que nele habita.