Acho que me apaixonei por você

Imagem de capa: Anatoliy Cherkas, Shutterstock

A última vez que me apaixonei, jurei que seria a última. Foi outro desses relacionamentos ‘pra sempre’, cheio de promessas e certezas, mas que terminou comigo jogada no sofá da sala, comendo brigadeiro direto da panela e emendando um filme no outro, assoando o nariz e secando as lágrimas, acreditando piamente que eu chorava por causa da história bonitinha do filme, não por causa de um fim que eu não quis pontuar. Enfim, eu jurei juradinho mesmo. Fiz cruz e beijei os dedos, selei pacto com o espelho, sacudi os cabelos e vamos que vamos, porque a vida era curta.

Achei que estava vacinada, confesso. Aí você sorriu para mim, daquele jeitinho que deixa seus olhos miúdos ainda mais pequenininhos. Eu senti aquele frio gostoso na barriga e te sorri de volta, mas falei para mim que estava tudo bem, que era só um sorrisinho bonito. Não era paixão, era outra coisa. Aí você veio e deu um abraço, desses de quebrar as costelas. Eu senti teu perfume invadir meu corpo inteiro e quis prolongar aquele abraço, para ver se enjoava de você. Você me soltou antes que eu enjoasse e, ufa!, ainda não era paixão.

A gente se afastou, mesmo estando perto. Você me mandava um bom dia fofo e eu acordava, todos os dias, já procurando teu bom dia que viria. A rotina estava criada: abrir as pestanas, ler teu bom dia, abrir um sorriso. Aí sim, eu saia da cama e abraçava os afazeres. Dava um gole de café entre um riso e outro. Mas não, não era paixão. Era só um carinho grande, sabe como?

Um dia, você me roubou para você – e eu deixei levar. Eu dividia espaço dentro do carro, que estava infestado com o teu cheiro. Eu tentei desviar os olhos, tentei focar em outra coisa, mas teu perfume me invadia por todos os lados. Não tinha para onde fugir, entende? Eu fui ficando acuada e sem saída. Você me pediu um beijo. Eu podia, mas não neguei. A noite foi pequena. O dia seguinte também. Mas não era paixão. Era tesão, desejo ou qualquer outra coisa.

A gente se afastou de novo, mas sem nos afastar por completo. Continuava tendo bom dia, sorriso, café, mais um tanto de riso. Diariamente. Eu estava quase me acostumando à falta de você, quando nos esbarramos em outra esquina. O coração acelerou e eu fiquei descoordenada. Mais descoordenada. Senti o corpo tremer, o estômago se contorcer e o nervosismo à flor da pele. Você me sorriu daquele jeito, me abraçou um tanto sem jeito e eu roubei o tanto de perfume que podia. ‘Três dias’.

Eu derramei uma lágrima, você duas. Dividimos a vida, a cerveja, as histórias e os lençóis. Quando vi, a minha armadura estava no canto, esquecida. Eu estava despida e entregue. Encarei-me no espelho, enxergando partes de mim que já eram tuas. Eu tinha jurado, juradinho mesmo, que nunca mais iria me empolgar novamente. Fiz cruz e beijei os dedos, selei pacto com o espelho, sacudi os cabelos e vamos que vamos, porque a vida era curta.

A vida é muito curta para não se apaixonar de novo. E eu acho que me apaixonei por você.



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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