Imagem de capa: milicad, Shutterstock
Acho que a vida de todo mundo tem um divisor, um antes e depois. O meu marco foi o famoso fundo do poço. Suponho que o poço é diferente para cada um que fez escolhas erradas e acabou por despencar. O meu, com certeza, não era bonito, muito pelo contrário, era feio, frio e escuro. O vazio consumiu meus dias, um a um. O relógio parava, mas também corria, perdi a noção do tempo e não sabia mais se era dia ou noite, verão ou inverno, partida ou chegada. Vivi um emaranhado de minutos que se confundia com anos. Me perdi no vazio das lembranças passadas e planos futuros.
O espontâneo isolamento minou qualquer possibilidade de interação ou resgate e eu arremessei a esperança pela janela. Desisti de sentir para poder não sentir a dor, mas não sentir me deixou faminta e passei a desejar sentir qualquer coisa. Definhei em pensamentos mortos na ânsia de me sentir viva. Qualquer vontade abandonou meu corpo e passei a não almejar nada que não fosse silêncio. Aquele silêncio que grita aos ouvidos e ensurdece até o coração. Eu era a ausência do próprio nada.
Interrompi antes de chegar ao fim da linha, antecipei a partida. Bebi o veneno da alma para brindar o desaparecimento da minha. Vesti uma armadura de mil toneladas ciente de que não sairia do lugar. a intensão era atrofiar até desfalecer qualquer amor. Afastei o positivo e me casei com o negativo. Nada de bom poderia sair de onde eu estava. É, o fundo do poço não é bonito.
Sair de lá não foi fácil, mas também não foi difícil. Quando avistei a luz tive certeza que as trevas tinham me deixado. Hoje, não importa o motivo que me levou até lá e sim o motivo que me fez sair. Não permita que a treva penetre na sua luz, só entra em você o que você permite. Defenda-se. O nosso interior é tão lindo e tão sábio que o exterior é um mero detalhe. O segredo? Olhar pra dentro. Apenas quando eu entendi que o mapa se encontrava dentro de mim pude encontrar a saída.