Imagem de capa: Olena Yakobchuk, Shutterstock
Pensam que é fácil, que é simples, que é claro e banal.
Pensam que é difícil, que é penoso, complexo e incerto.
Pensam que não dói, que não arde, que não sangra.
Pensam que eu não sinto ou que sinto demais.
Pensam que eu sou forte, fraca, forte, fraca.
Pensam que eu não vi, não ouvi, não senti.
Pensam que eu não sei, não conheço ou não entendo.
Pensam que sei de tudo, que entendi o que aconteceu e assimilei tranquilamente.
Pensam que eu não entendi nada.
Pensam que eu vivo na fantasia do que minha cabeça produz.
Pensam que eu não vivo na realidade ou que tudo é muito real pra mim.
Pensam que sou rasa, que sou intensa, que sou brisa leve, que sou furacão.
Pensam que eu sou feliz, triste, alegre, azeda.
Pensam que meu sorriso tem dono e que minhas lágrimas também.
Pensam que meu corpo não sente, que o peso não pesa, que a carga não massacra, que a bagagem não atrapalha.
Pensam que o fardo é leve, que as lembranças são aprazíveis, que a memória é seletiva.
Pensam que esqueci, que não guardo recordações.
Pensam que não acumulo rancor, que não planejo retaliação, que sou flor.
Pensam que sou fria, calculista e vingativa. Pensam que sou paz, amor e sorriso.
Pensam que sabem o que penso, que entendem o que digo, que decifram o que oculto, que interpretam o que escrevo.
Pensam que sou transparente ou que sou misteriosa.
Pensam que sou frágil, maleável, manipulável.
Pensam que sou dura, forte e controladora.
Pensam que sou doce, amarga, azeda.
Pensam que sou fina, elegante, sofisticada.
Pensam que sou comum, popular, genérica.
Pensam que sou cura, mal, salvação, distúrbio.
Pensam que sou abrigo, morada, guarita.
Pensam que sou fachada, carcaça, escombro.
Pensam que sou mulher, menina, garota.
Eu?
Eu deixo que pensem.
Ninguém conhece a minha verdade.
Ninguém!
Apenas eu.
Talvez…