Imagem de capa: KIRAYONAK YULIYA, Shutterstock
Gosto de pessoas assim, humildes de coração, de sorriso travesso e coração amável que me surpreendem todos os dias com suas ações. São pessoas que falam e cumprem, que não se gabam, que não entendem de egos exaltados ou de falsidades camufladas. Adoro essas pessoas mágicas camufladas de normais.
E quem não adoraria? No entanto, sabemos bem que esse tipo de personalidade pode ser contado nos dedos de uma mão. Vivemos em uma sociedade individualista e cada vez mais orientada ao exterior, por isso são comuns certos comportamentos exibicionistas e excessos, nos quais a dependência de ser admirado quase em todos os momentos esgota e sufoca.
“Se as pessoas são boas só porque temem o castigo e esperam uma recompensa, então somos um grupo lamentável.”
-Albert Einstein-
Paul-Claude Racamier, célebre psicanalista francês, cunhou há vários anos o termo “perverso narcisista”. Seria sem dúvida a versão mais extrema deste perfil. São pessoas que vivem não só focadas na sua própria infalibilidade e perfeição, mas que além disso exercem um assédio moral persistente para humilharem os outros e engrandecerem ainda mais a si mesmos.
Viver sujeitos a este tipo de dinâmica acaba por destruir a nossa saúde mental. É necessário transformar as nossas relações cotidianas. Temos que encontrá-las, ir de encontro a essas pessoas que não focam suas vidas na galeria, mas neste lugar secreto e privilegiado onde a pessoa se compreende, se encaixa com sabedoria e respeita os outros.
As pessoas que se gabam e as pessoas que nos reconfortam
Um traço comum do narcisista crônico é a sua tendência de fazer promessas e castelos no ar que mais tarde não cumpre. São viciados em utilizar o pronome pessoal “eu” no início de cada frase, fazem de grãos de areia catedrais régias e se lançam como arrogantes arquitetos dos seus universos todo-poderosos. Eles sabem tudo, viram tudo e experimentaram tudo, e se não tiverem isso, inventam que sim para continuarem a sentir o glamour.
O mais curioso deste tipo de personalidade é que as identificamos quase que instantaneamente. As mentiras têm pernas curtas, e a vaidade tem os olhos muito saltados. No entanto, às vezes, mesmo vendo de longe suas múltiplas carências e o vazio do seu coração cheio de teias de aranhas, não é tão fácil nos defendermos. Não é fácil conviver com um narcisista crônico se essa figura é o pai, a mãe, ou o próprio parceiro ou parceira.
Segundo um artigo publicado na revista científica “PsychCentral”, existe um aspecto essencial que pode curar e reconfortar uma pessoa que acaba de viver uma relação afetiva com outra que contém essas características. É sentir que ainda há gente altruísta, seres que são capazes de surpreender aqueles que amam sem esperar nada em troca. Porque as boas pessoas, por mais que possam parecer, não estão em perigo de extinção.
O que acontece é que elas são discretas, não fazem ruído, não querem público, falam o que é justo e sabem agir no momento adequado.
Atualmente, a humildade continua nos surpreendendo
O ego mais ousado é o germe que vive nesses muros onde muitos permanecem isolados nas suas vastas penínsulas de solidão. Todos conhecemos alguém próximo que usa essa máscara moderna onde, a modo de expressão do teatro grego, inscreve a soberba e a necessidade de atenção para saber que são alguém.
Talvez por essa razão, por termos nos acostumado tanto com a individualidade conjugada quanto com a necessidade de atenção, os atos humildes continuem nos surpreendendo.
Quando um estranho faz algo de forma espontânea por outra pessoa, nos perguntamos quase instantaneamente o que fez com que ele tomasse aquela atitude. Da mesma forma, quando um amigo nos surpreende com um detalhe, com um favor ou com uma bela ação, muitas vezes respondemos “fico te devendo uma”.
Muitos temos o princípio da reciprocidade integrado lá no fundo do nosso ser. No entanto, também seria adequado aceitar esses atos com total abertura sem nos obcecarmos com o que deveremos ou não fazer no futuro. É questão de apreciar este instante, esse ato generoso e desinteressado que não busca mais do que nos dar felicidade.
Na verdade, essas pessoas mágicas disfarçadas de normais não esperam nada em troca. Porque o que se faz de coração não espera recompensas, o maior presente é saber que sua ação arrancou um sorriso, reconfortou e semeou no interior essa confiança no ser humano que nunca deveríamos perder.
Sabemos que as falsas aparências crescem como ervas daninhas. No entanto, depois da necessidade de atenção, a única coisa que essas pessoas alcançam é a solidão e uma profunda falta de amadurecimento emocional. Vamos aprender a abastecer a nós mesmos, a não precisar de ninguém para saber o que somos e o que valemos para podermos, assim, dar o melhor de nós mesmos para os outros de forma desinteressada.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa