Eu sou o meu lugar

Imagem de capa: Versta, Shutterstock

Eu tentei me adaptar a um contexto diferente para ser socialmente aceita. Eu esperava ser acolhida e encontrar algum lugar de pertencimento. Eu não tinha nada, apenas uma vida absolutamente oposta à minha, um amor pelo Outro, uma vontade imensa de conseguir me adequar. E com toda a experiência que ganhei, eu me perdi de mim. E a falta que senti da minha presença foi minando todas as minhas forças: sem autonomia, sem alegria e absolutamente só, eu tentei caminhar, mas não consegui encontrar nenhum caminho próspero.

Precisei me deslocar geograficamente para saber aonde eu estava. Eu precisei chorar no aeroporto para resgatar as emoções amputadas. E me abandonar, aqui, no abraço que lá era negligenciado: meus poros estavam ávidos por um toque amoroso, e esta experiência me pedia urgência.

Na busca incessante do meu EU, descobri: eu sempre estive comigo, tão dentro, eu precisava apenas não me rejeitar.

E quando eu percebi que apenas precisava deixar vir, eu descalcei meus pés, eu me despi da dor, eu resgatei em mim a inocência, o auto amor. E pude então sentir a flor dentro de mim: botão que se feria por não desabrochar. Plantei o meu lugar: e recebi com luz minha fonte inesgotável de força e criação, o sol interno e aceso tão prestes a pulsar. Dancei como criança, dancei como mulher, deixei que o FEMININO tomasse o meu corpo. E todas as sementes brotaram num sorriso, viraram gargalhadas, trouxeram pros meus membros fortes, leves, delicados movimentos: e como um Orixá, eu era a natureza, eu era extensão de toda a Beleza, eu era a mim mesma: EU SOU O MEU LUGAR.



LIVRO NOVO



Marla de Queiroz, brasileiríssima, é marlabarista de palavras. Simples e complexa como a contradição. Negra-índia urbana: fruto improvável de nó de intelecto e calo de mão. Seus versos vêm da imagem, do amor, da saudade, da contemplação. Com estética e sotaque próprios, nascem em Brasília e deságuam no Rio de Janeiro. Ler Marla é sentir a confortante sensação de que não estamos sós. É saber que temos alguém por perto para expressar o que sequer conseguimos sentir. (André Averbug)

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