Coração partido

Imagem de capa: Chamille White, Shutterstock

Não se cura um coração partido. Um coração não se parte: ele permanece inteiro, mesmo que dolorido, quando alguém se vai. E a dor de tão abstrata torna-se física, porque foi aberta ali uma fissura de saudade, desilusão, desesperança. É feito uma febre alta que precisa ser medicada: pelo tempo, pelo desapego. Mas quem sofre a perda de um relacionamento que cumpriu seu prazo de validade, fica tão inconformado com as soluções para a cura, quanto pelo que se esvaiu.

Coração é órgão nobre e vital que não deveria ser sobrecarregado por falsas esperanças, insistências estéreis, esperas inúteis. Coração é terreno nosso, de plantio escolhido e colheita arbitrária.

Não se cura um coração partido. Coração não parte, fica: latejando, doendo, sufocando, mas inteiro. A gente tem é que tentar se curar de quem partiu. A gente tem que tentar se restabelecer pra aventura nova quando a febre passar e a disposição estiver de volta. Mas esse remédio amargo chamado tempo, é tão abominável na hora da dor, que não adianta explicar para alguém que ele ainda está vivo, quando este mesmo alguém acha que morreu.



LIVRO NOVO



Marla de Queiroz, brasileiríssima, é marlabarista de palavras. Simples e complexa como a contradição. Negra-índia urbana: fruto improvável de nó de intelecto e calo de mão. Seus versos vêm da imagem, do amor, da saudade, da contemplação. Com estética e sotaque próprios, nascem em Brasília e deságuam no Rio de Janeiro. Ler Marla é sentir a confortante sensação de que não estamos sós. É saber que temos alguém por perto para expressar o que sequer conseguimos sentir. (André Averbug)

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