Imagem de capa: Ditty_about_summer, Shuttertock
Às vezes, soltar não é necessariamente um sacrifício nem um adeus, mas sim um “obrigado” por tudo que aprendemos. É deixar partir o que já não se sustenta em si mesmo para nos permitirmos ser mais livres e autênticos, e então receber o que tiver que chegar.
Se pensarmos nisso por um instante, veremos que as melhores decisões, essas seguidas de um estado de grata felicidade, justamente implicam ter que soltar alguma coisa. Pode ser um medo, uma angústia, traçar certa distância de um lugar ou mesmo de uma certa pessoa. A renúncia é parte do processo da vida. É uma coisa natural, porque todos somos obrigados a escolher no que e em quem investir nossos tempos e nossos esforços.
Solto, entrego, confio e agradeço, porque é preciso deixar partir o que já não quer ficar, o que pesa, o que já é falso… Para permitir então que o nosso próprio coração fique apenas com o que é autêntico.
Um fato a considerar é que o ato de soltar, por si só, não implica apenas cortar esses laços que colocam limites ao crescimento pessoal e a felicidade. Soltar significa em certos casos ter que se desprender e repensar muitos dos próprios conceitos psicológicos, tais como o ego, o rancor, ou mesmo o próprio medo da solidão.
Porque aquele que quiser receber precisa ter o coração preparado para receber essa nobreza que não entende de egoísmo, nem de tempestades interiores.
A ambição e a necessidade de acumular
Na sociedade atual associamos a conquista de certas coisas com a ideia de felicidade. “Serei feliz quando fizer essa viagem, quando tiver namorado, quando tiver minha própria casa, quando tiver um aumento de salário, quando tiver um carro novo, celular novo, quando perder uns quilos, quando estrear a nova temporada do meu seriado favorito…”
Compramos livros e mais livros para aprender a ser felizes, enquanto esperamos que alguma coisa mude, enquanto aguardamos que em algum momento tudo que foi acumulado nos ofereça a resposta que esperamos. Frédéric Beigbeder, famoso escritor, criativo e publicitário francês, disse que no mundo da publicidade ninguém deseja que as pessoas sejam felizes. Simplesmente porque as pessoas felizes “não consomem”.
A felicidade é uma coisa que as sociedades modernas nos vendem como uma “ilusão”, algo que deve ser breve e efêmero para nos obrigar então a consumir mais. Por isso a “obsolescência programada” dos aparelhos eletrônicos, por isso a ideia de que para ser feliz é preciso ser atraente e andar com certas roupas, ter muitos amigos, e encontrar o amor ideal nas páginas de contatos, onde os relacionamentos podem começar hoje e acabar amanhã com apenas um “click”.
Criamos um mundo onde valores como a ambição e o inconformismo patológico nos afastam completamente do verdadeiro sentido da felicidade. Vivemos atentos ao que nos falta, sem perceber tudo o que, na verdade, nos sobra. Tudo aquilo que deveríamos soltar para compensar o equilíbrio, para sermos nós mesmos.
Para ser feliz é preciso tomar decisões e… soltar
A vida é muito curta para vivermos permanentemente frustrados. Por isso, e se de verdade desejamos ser felizes, precisamos ser capazes de tomar decisões, de saber no que e em quem desejamos investir o nosso próprio tempo. Mas, como você já deve imaginar, decidir implica muitas vezes ter que renunciar, um exercício que precisa ser feito de forma consciente e madura assumindo as consequências.
A vida é um eterno deixar partir, porque somente com as mãos vazias você será capaz de receber.
Para ajudá-lo no complexo caminho da renúncia e na arte de soltar, vale a pena lembrar que para a filosofia budista a felicidade nada mais é do que um estado mental de calma e bem-estar. Portanto, preste atenção com calma e com sabedoria a tudo aquilo que rodeia você para sentir o que lhe oferece serenidade e o que traz ruído, o que e quem nutre a sua alma com respeito e o que ou quem lhe traz tempestades em dias claros. Decida, escolha, confie no seu instinto e, simplesmente, solte.
Outro aspecto que é preciso lembrar é que quem tem a coragem para soltar também precisa ser digno para receber. Por isso, vale a pena refletir alguns instantes sobre estas ideias:
– É preciso renunciar à necessidade de sempre ter o controle sobre os outros. É preciso “ser” e “permitir ser”. Quem reclama de liberdade pessoal para crescer precisa ser capaz, por sua vez, de poder oferecê-la.
– Renuncie à necessidade de ter sempre razão. Assumir o erro é crescer e saber guardar silêncio quando o momento requer é um gesto de sabedoria.
– Solte seu ego, liberte-se da necessidade de impressionar, de ter que competir, de exigir atenção quando ninguém o observa, de procurar qualquer falsa companhia quando você tem medo da solidão. Solte seu medo para se permitir ser verdadeiro, para ser você mesmo, essa pessoa que é tão capaz de dar quanto de receber.
Concluindo, nesta complexa mas fascinante luta cotidiana para ser feliz, todos nós deveríamos praticar o saudável exercício de soltar o que nos pesa, amar o que já temos e ser agradecidos diante de tudo que é bom, que sem dúvida está por vir.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa