O dia em que não salvei vidas
Sad, mixed race boy sitting on sidewalk

Quando notamos que somos tão fechados em nossas preocupações que esquecemos do mundo ao nosso redor.
Ajudar aos outros é uma forma de nos ajudar. De uma pequena atitude, poderemos nos tornar pessoas cada vez melhores, mais conectadas com o mundo e menos preocupadas com nossos pequenos problemas.

Estava no shopping jantando quando uma senhora me passou vendendo docinhos em potinhos. Ela me olhou e começou a chorar dizendo que precisava vender dois para voltar para casa. Devia ter uns 80 anos e seus olhos estavam muito sofridos. Comprei os dois docinhos. Mas sei que isso não irá resolver o problema da vida dela, que já devia ter sido resolvido há muito tempo. Chegar aos 80 anos e precisar se descolar de Caxias para Botafogo para vender doces, carregando uma bolsa pesada e ainda por cima quase dez da noite…

Ameacei chorar.

Conseguiram me distrair.

Guardei os doces e pensei dar a alguém na rua que estivesse precisando. Não encontrei…

Entrei no metrô e a primeira coisa que vi foram dois meninos de rua, provavelmente irmãos abraçados e quase dormindo. Deviam ter uns seis anos e chupavam os dedos cansados de vender balas.

No impulso perguntei: estão com fome? Olha o que eu vou dar a vocês!

Eles levantaram com um olhar de tanta esperança e alegria!

Mas os doces estavam sem colheres.

Falei: peçam colherzinha em alguma lanchonete quando saírem daqui.

Eles disseram que sim, mas com o tempo, começaram a cheirar o doce, abriram a embalagem, lamberam um pouco o doce, começaram a comer famintos com os dedos.

Comecei a chorar. Segurei o choro para que ninguém me visse.

Por um momento fiquei com medo de ser acusada de velha dos doces, lembrando daquela história do não aceite doces de estranhos, mas a piada não me tirava as lágrimas.

Não desta vez.

Mais uma vez na mesma noite, tudo o que eu podia fazer ainda não resolveria o problema destas pessoas. Chorava muito mas sorria ao ver o menino feliz. O irmão já tinha voltado a dormir no colo dele. Chupando o dedo novamente… O menino me olhou com os olhos mais lindos que eu já vi e disse: “você comprou em Botafogo? Você vai embora? Jogue no lixo para mim.”

E assim me despedi de pessoas que nunca mais irei ver provavelmente…

Mas que ficarão comigo para todo o sempre.

Senhor, guarda a vida destas pessoas. Elas não merecem esse sofrimento. E disto tiro a lição: quando estiver com tristeza, ao invés de tentar entender coisas que não estiverem ao seu alcance, ajude alguém.

Vivemos muito presos em nossos projetos egoístas. O mundo vai acabar se não conseguir o emprego dos seus sonhos? Não!

Você tem condições de conseguir outros caminhos. Estas pessoas não. Por enquanto. Porque você vai sair desta mensagem pensando que pode fazer sim a diferença no mundo.

Ajude mais pessoas a sonharem. Se eu puder dar amor a uma criança que seja, e você também e todos, cresceremos como pessoas e salvaremos uma vida.



LIVRO NOVO



Nasceu em Petrópolis-RJ, mestranda e graduada em Relações Internacionais pela Universidade do Brasil! Tem interesse em tudo que se pode imaginar, até química, física, logaritmo e quadrantes. Sempre adorou escrever e coleciona caixas de textos que escreve desde a infância. Seja sobre poesia da vida cotidiana ou sobre assuntos políticos, filosóficos, antropólogos, científicos, sua vida é de uma forma ou de outra ligada à tentativa de olhar o mundo com mais profundidade do que a correria da rotina nos permite. Nada lhe escapa, dos assuntos cotidianos às condições políticas que acontecem ao redor. O que varia é o horário, a inclinação do olhar ou da cabeça também... Quer falar todas as línguas do mundo... ou quase. Quieta de vez em muito, nada como a introspecção para refletir a vida um pouquinho. Mas também pode fingir ser a pessoa mais extrovertida do mundo se quiser. E engana bem. Da personalidade mais rara do mundo, INFJ com muito prazer!

1 COMENTÁRIO

  1. Já passei por uma situação parecida. Uma senhora me pediu na porta de um banco que eu comprasse um dos bombons que ela vendia. Eu sempre compro coisas do tipo pra ajudar quando tô com dinheiro. Mas o olhar daquela senhora implorava por uma venda, como se não tivesse conseguido vender nenhum até aquele momento. Sorte dela que eu sei ler olhares. Acho que depois de comprar disse algo pra ela. Algo do tipo: “Boas vendas.”

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