Eu tenho apenas duas certezas na vida e a primeira é a de que todos nós iremos partir um dia. O resto todo pode ser revisto e ter o percurso transformado.
Sabe aquele dia em que você acorda se perguntando se o caminho a ser traçado é esse mesmo ou se já é hora de mudar o rumo? Ou, sei lá, se o que você faz na (e da) vida realmente é aquilo que te dá prazer ou se vale perder o tempo de ser feliz com brilho no olho por um salário interessante ao final do mês?
Há quem se desespere por não saber exatamente o que as dúvidas querem dizer, mas aprendi que são elas as grandes incentivadoras para as mudanças importantes e decisivas que acontecem em nossas vidas. Quando pararmos para pensar sobre qualquer coisa e nos damos conta de que poderia ser diferente, – e ainda bem que isso acontece -, estamos iniciando uma possível e importante metamorfose.
A nossa história é feita de transformações, pois é impossível aceitar que o mundo seja imutável só pelo comodismo do mais do mesmo. Estagnar é deixar o trem passar sem escolher o melhor lugar para apreciar a paisagem. Deixar que as coisas fiquem como estão quando já não nos arrancam o risco é nem embarcar na viagem da vida.
Precisamos mudar a forma como observamos as mudanças – e entendo que o primeiro impacto seja um pouco perturbador, mas sem elas não evoluiríamos como pessoa, profissional, esposa, mãe, pai e tudo mais. A consequência disso seria uma vida morna e dura disfarçada em uma existência aparentemente tão fácil.
É urgente aceitar que as pessoas mudam, que as coisas se transformam, que as prioridades ocupam novos lugares e que tudo isso é muito bom para quem muda e para o mundo que recebe essa “nova” pessoa. O cenário do palco da vida toma diversas formas ao longo do tempo. Nós podemos revigorar suas cores, inovar seus temas ou rasgar o roteiro e começar uma outra história.
Pouco importa quantos outros pregos serão martelados para manter a casa em pé depois da tempestade. Tanto faz a ordem com que as cores serão pintadas nas paredes que erguemos novamente – todas as vezes que o furacão leva tudo embora. O ruim não é perder tudo, mas descrer que podemos ressurgir das cinzas para uma nova temporada de flores a qualquer momento. Aliás, a segunda certeza que tenho na vida é de que quando a gente perde é que a gente ganha.
Essa matemática é simples: todo e qualquer obstáculo só serve para que possamos aprender sobre esperança, fé, coragem e amor para com o nosso enredo. A mudança que aceitamos fazer é uma espécie legítima de amor-próprio, a mais singela espécie de amor-próprio. Dizer não para o que desagrada e buscar o sim nas coisas que florescem dentro e fora da gente é o caminho para toda transformação.
Tudo começa pelo não: não quero, não aceito, não gosto de ser tratado desse jeito, não está bom, não é assim que tem que ser, – e tudo mais que você despertar aí dentro. Essas afirmações um tanto negativas são os alertas da vida. É a partir delas que vamos traçar uma nova rota, reorganizar novos e velhos marujos e desfazer as âncoras que nos prendem aos lugares mais escuros.
Quando entendemos que mudar é necessário tudo fica mais bonito, inclusive o processo de metamorfose a que nos submetemos ainda que doa, ainda que sofra, ainda que assuste. Quer coisa mais bonita do que a borboleta que deixa de rastejar para levar leveza e esperança pelos ares?
Viver a vida sem medo de virar borboleta e sem receio de deixar o que não transforma para trás é uma justa forma de amor com a gente mesmo. E não só com a gente mesmo, né? Metamorfosear-se é uma forma nobre de amar aqueles que nos rodeiam e merecem o que de melhor podemos ser.
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