O vale do amor

– É tão estranho quando alguém morre.
– Como assim?
– A pessoa desaparece!
– É, fisicamente a pessoa desaparece. Mas só fisicamente!
– Ué, como assim?
– Quero dizer que a pessoa permanece viva no coração da gente.
– De que adianta pensar assim se não podemos mais tocá-la?
– E de que adianta pensar assim se não podemos mais tocá-la?
– Não entendi!
– Você não vai toca-lá e isso é um fato. É você que escolhe se vai guardar no peito ou só se lastimar pela falta do abraço.
– Não é tão fácil assim!
– Não é fácil, pois a saudade dói! Porém, quando esse sentimento se transforma, veja bem, aí podemos carregar no coração sem sofrer.
– Sempre vou sentir saudade do meu pai, por exemplo! Então, talvez a saudade não se transforme nesse caso.
– Ela já se transformou!
– Como assim?
– Ontem você contou histórias incríveis sobre seu pai e até riu das aventuras dele!
– E?
– Sinal de que o carrega aí dentro e já consegue lembrar sem sofrer, entende?
– É, pode ser!
– Quando uma pessoa morre, na verdade, ela vai para o Vale do Amor.
– Que isso?
– Uma ilha cheia de doces.
– Onde fica?
– No céu.
– Vale do Amor? Isso não existe!
– Quem te disse?
– E quem te disse que existe?
– Minha esperança! As pessoas que amo e que já partiram estão no Vale do Amor e é para lá que eu também quero ir.
– Você criou isso para amenizar a dor da saudade que sente!
– Sim, isso mesmo!
– Por isso, amigo, o Vale do Amor não existe de verdade!
– A verdade depende do ângulo que você vê, menina! Diante disso, o Vale do Amor existe e hoje tem bolo e guaraná na mesa dos anjos!
– Hoje é finados!
– Não! Hoje não tem nada de fim! Hoje é dia de agradecer pelo tempo passado junto e renovar a esperança no amor que não podemos tocar. Porque amar atravessa as fronteiras do corpo e transcende a dor da saudade. Aliás, quando a saudade de alguém faz pouso no meu peito, logo mando embora e lembro de um momento lindo passado junto com ela. O amor é tão bonito que nos permite escolher para onde vamos na nossa imaginação. É tudo uma questão de percepção.
– Essa foi a coisa mais bonita que já ouvi!
– Que tal colocar seu pai no Vale do Amor?

( Pausa)

– Tem campo de futebol no Vale do Amor?
– Hahaha, tem o que você desejar! Por que?!
– Meu pai disse que só vai se puder levar a bola!

Os dois sorriram na certeza de que o Vale do Amor estava em festa!



LIVRO NOVO



Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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