Desde quando somos seres incompletos? Quando foi que passamos a buscar algo que era tão natural em nossas vidas? Para onde se foram nossos sorrisos espontâneos? E nossos sonhos? Por quê nos sentimos infelizes sem sabermos o porquê? A resposta pode estar na sua frente. E você nem se deu conta.
A maioria não sabe, mas a principal causa da infelicidade é o que conhecemos por ansiedade. Ela acomete praticamente a população inteira, em menor ou maior grau. Estamos tão acostumados a conseguir o que queremos rapidamente que esquecemos como é ter que esperar. Se temos um problema com o banco, podemos ligar às onze da noite, se temos problemas com nossa televisão ou celular, seja o que for, temos atendimento domingos e feriados. Queremos uma resposta e em segundos a encontramos em sites. Pronto, somos doutores em qualquer assunto.
Nem tudo é tão simples assim. Nos tornamos pessoas que sabem pouco de muito e muito de pouco. Focar a atenção pode ser uma luta. Passar um dia sem tecnologia pode causar grande desconforto e isso é sério. O excesso de tecnologia nos tirou o dom de saber viver. Não sabemos mais administrar nossos medos e angústias sozinhos. Quem sabe até nem conheçamos a nós mesmos ainda. Deixamos nosso lado intuitivo para seguir o lado do pensamento massivo imposto através de imagens e propagandas, de pensamento coletivo, de comportamentos repetitivos. A opinião alheia divulgada com tanta facilidade em redes sociais altera a forma como pensamos sobre determinado assunto e nem nos damos conta disso. Quando percebemos, estamos divididos em grupos que pensam igualmente. O que você pensaria sozinho sobre determinado assunto que está na moda? Sua opinião seria a mesma se não tivesse lido dezenas de pessoas falando a mesma coisa? Seus hábitos seriam os mesmos se não estivesse em contato com os hábitos de tantas pessoas?
Passo um: Quem somos nós?
A ideia é descobrir quem somos individualmente. O caminho para a felicidade começa aqui.
Refletimos inúmeras vezes sobre o mesmo problema e, de repente enxergamos detalhes que haviam passado como despercebidos. Por quê então que isso pode estar acontecendo?
Na verdade, a ansiedade cansa. Desperdiçamos muita energia em algo improdutivo, o que seria neste caso, ficar preocupado mais do que o necessário com assuntos que, se tivéssemos calma, seriam facilmente resolvidos. Pensar demais sobre nossas decisões só traz mais dúvidas. Quanto mais dúvidas, mais tempo para se chegar a uma resposta e quanto mais tempo, mais ansiedade para se resolver um problema. O excesso de foco causa tensão e isso nos impede de traçar caminhos lógicos. A tensão é gerida pela emoção. Muita emoção não contribui para a razão.
Nossa ansiedade também é afetada pelo modo de vida que temos atualmente. Tudo está muito alcançável. Antes, ter graduação era o suficiente, era até bom demais. Quem sabia falar inglês então, devia ser considerado o topo da cadeia profissional. Hoje, quantos de nossos colegas já falam em graduação como uma possibilidade ou até mesmo, se tornam graduados? É muito bom saber que o acesso a educação está na vida de tantas pessoas e ver como nosso país está evoluindo em tão pouco tempo, mas, por outro lado, isso torna o mercado cada vez mais competitivo. E isso deve estar gerando uma ansiedade no leitor neste momento. Calma.
Ter um mestrado quase não significa para o selvagem mercado de trabalho, que exije nossa saúde física e mental ao cobrar cada vez mais e mais do que o nosso corpo consegue absorver de forma sã, e um doutorado, talvez possa começar a contar alguma coisa no currículo. Falar inglês é quase uma obrigação e talvez seja bom arriscar um francês, espanhol, mas o que vai te diferenciar mesmo é o mandarim. Mandarim este, que deve ser aprendido em uns 10 anos.
Este é o caminho ideal para todos nós? Já pensaram que, se todos seguirem o mesmo caminho, até o mandarim citado acima, será banal? Sob este olhar de pensamento, pensemos então no caminho que seria ideal para cada um de nós. Quais são nossas peculiaridades, nossos gostos pessoais, quem somos nós e para quê viemos? Que tal focarmos mais em nós mesmos?
Penso que o foco que nos levará à felicidade deve ser em nós. A felicidade não é uma receita que deve ser igual para todos. Somos tantos bilhões de pessoas. Isso seria impossível. Então por quê continuamos tentando seguir essa fórmula mágica? Certamente porque apenas repetimos comportamentos e hábitos sem questionar e, portanto, não nos damos conta de enxergar o óbvio.
Passo dois: Qual o nosso ritmo de absorver ideias e informações?
A velocidade com que anda o mundo não importa neste momento. Qual seria a sua velocidade? Como seria fazer as coisas no seu tempo e em paz consigo? Certamente descobrirá que é uma pessoa muito mais produtiva quando não se compara com alguém, quando tem força interior para não ceder a pressões ou quando não se cobra tanto. De nada adianta, tentar fazer vinte coisas ao mesmo tempo, para tentar chegar mais próximo daquilo que se tem como símbolo de felicidade, se não nos sentirmos bem fazendo isso.
Passo três: O que gostamos?
“O sucesso vem para aqueles que não estão preocupados com ele.”
Verdade.
Vamos parar um pouco e fazermos aquilo que gostamos de fazer. Uma pausa para essa correria do dia a dia. Vamos desenvolver um talento, fazer alguma coisa sem nos sertirmos pressionados. Deixemos que falem, que pensem, que julguem. A vida é somente tua neste momento. Se teu sonho for escrever, escreva. Se for a música, ensaie. Se for estudar, estude. Façamos as coisas por nós mesmos e não, somente por imposições de mercado.
Sabe por quê? Porque muitos de nós poderíamos realizar nossos sonhos, mas não o fazemos porque alguém nos disse que não daria em nada e que era melhor colocar os pés no chão e focar em algo certamente rentável. O detalhe aqui é que, se fizermos sem inspiração aquilo que é apenas rentável e, se ao mesmo tempo, não desenvolvermos nossas habilidades para aquilo que realmente desejamos, no futuro não teremos conseguido nem A e nem B. Seremos eternamente frustrados repetidores de que a vida passa rápido ou que a vida é um sofrimento. Se fizermos algo que gostamos, as portas irão se abrir. Basta ter paciência e lembre-se de que ansiedade não combina com paciência.
Passo quatro: Gratidão.
Antes de nos cobrarmos tanto, tentemos ser gratos por tudo o que já alcançamos em nossas vidas. Atentemos para os pequenos detalhes. Isso trará mais conforto. Na verdade, podemos até nos surpreender com a garra que tivemos em momentos bem piores do que o atual, o qual tendemos a pensar que é sempre mais difícil que o passado. O hoje parece ser sempre mais difícil, até que olhamos para trás e percebemos como já passamos por tombos muito mais difíceis que nossos problemas atuais. O hoje pode então, ser o fácil de amanhã, portanto, aproveitemos o momento.
Aceitem que todos os dias há uma luta e que somente cada um de nós poderá resolver isto. Entendam que a vida caminha e que ninguém tem nada a ver com isso. Pensem em fazer atividades que sejam prazerosas. Se algo não lhes traz felicidade, mudem, e sem pena, mas sejam gratos por tudo o que têm em suas vidas. Aproveitem a saúde, a família, os colegas, o parceiro (a), os filhos e até os quilinhos a mais. Pessoas morrem de desnutrição por ai. Sejam gratos por tudo, por qualquer coisa, até dos seus problemas, que poderiam ser piores.
Façam uma lista do que consideram problemas e outra com o que consideram como felicidade. Enxergarão que aquilo que, normalmente consideramos como felicidade é muito mais enraizado, muito mais estável do que os problemas. Normalmente pensamos em família ou saúde como felicidade e tendemos a pensar em coisas passageiras como problemas. Ou seja, tendemos a dar muito valor àquilo que é passageiro e pouco valor àquilo que é duradouro.
Passo cinco e último: Compaixão.
Compaixão aqui, desta vez não será para os outros, mas por nós mesmos. Nos perdoemos por nossos erros e tenhamos em mente que somos vencedores por estarmos aqui hoje, por termos conseguido sorrir depois de tempos nebulosos e por exigirmos tanto de nossos corpos e mentes. Um pouco mais de cuidado e amor por nós mesmos. Não somos de ferro.
Que este texto traga um pouco mais de respostas do que textos que listam dicas e regras materialistas que prometem trazer felicidade em troca. Que saiam daqui a com uma lição aprendida: o aqui, o agora é você. Sua escolhas que devem reger sua vida. Seu tempo é que deve reger seu ritmo. Uma pausa nessa pandemia de ansiedade. Um protesto por si mesmo!
A felicidade mora dentro de nós pois somente nós podemos administrar nossos pensamentos e sofrimentos. Os atento para a frase, mudo o tom para chamar atenção e não dispenso o clichê de que “O mundo que enxergas por fora é o mesmo mundo que existe dentro de si.”
E é verdade. Explique-me porquê, quando estás apaixonado e estás sendo correspondido, o mundo parece cor de rosa e o céu mais azul? Porquê deixas de te preocupar com coisas bobas e focas somente na felicidade do momento? Por que pensas em fugir e viveres a vida intensamente, se alimentando apenas de amor, como se nada mais importasse? Onde está essa felicidade que sentes neste momento de êxtase quando estás apaixonado? Não digas que é no outro! Este sentimento é teu!
Concluindo, a resposta de nossos problemas está dentro de nós mesmos. Mas para isso, é preciso nos retirarmos do modo ansiedade de viver e ligarmos o modo pausa por um tempo e sentarmos para refletir sobre como viemos parar nas situações que nos desagradam hoje e traçar caminhos para mudar. Dar um olhar mais demorado para nossas vidas. O autoconhecimento é fundamental para o encontro com a felicidade, pois ela é única para cada um. Ela está depois do túnel escuro. Aproveita o túnel para conhecer a ti mesmo.