Pensei tentar chegar ao fim desse texto sem perder a rima. Não sei se chamarão de poesia ou de pretexto para vencer o desafio. Pode ficar um texto frio, confesso. Falando em fio (o da meada), que pancada mais gelada essa que a vida dá. Dá em mim, dá em ti, aqui, ali, em qualquer lugar.
Faz parte! Faz parte! Viver é a arte da superação. Supera! Supera! Cai e não quebra! Bem quisera eu ser pedra, mas fui feita da ventania da minha própria rima. Queria mesmo era ser flor, dessas que despertam amor para quem souber olhar. Até que sou um pouco desse jeito, não que seja sem defeito, não tem a ver com conceito.
Ser flor, veja bem, preste atenção, ser flor é ser raiz. É ficar por um triz e, ainda assim, brotar. Quem disse que a vida é doce nunca comeu pimenta. Aguenta! Aguenta! Não há de ser nada, tudo passa. Já ouviu isso? É questão de compromisso com o tempo. Eu aguento. A espera é que não tolera ouvir a pressão das horas. Fico ou vou embora?
Se fico, resisto, persisto de pernas para o ar. Se fujo, ora bolas, viro marujo em alto mar. “Navegar é preciso”, quem disso isso? Devolve meu remo, senhor! Leva só a minha dor. Como hei de pilotar o barquinho sendo assim pequenininho, igual um grão que escorre no vão da mão.
Já avisei lá em casa que não sou de deixar barato. Tem um ditado, não sei bem, és um homem ou és um rato? E se for rato, o que é que tem? Devo nada a ninguém, exceto um abraço a quem assim me pedir. Hei de seguir em frente, já disse para minha gente, sou marujo!
Essa rima não tem pausa, sabe como é? Dedada no teclado bem tipo “deixar rolar”. É que sou dessas, assim mesmo, meu dedo é menos preso do que a minha capacidade de falar. Eu disse falar, criatura. Larga essa amargura de querer me adivinhar. Não é porque te convido para entrar que te permito soletrar o que existe aqui dentro.
Aliás, fique sabendo, entra só quem eu deixo. E se invadir eu me queixo, escrevo uma advertência, mas não dou vexame, meu reclame é para dentro. E aí é feito barrados no baile. Parado na entrada, é porta na cara, depois a gente resolve. Se é que pode.
Bendita seja a poesia e toda a alegria que ela te dá. Ainda que por aqui o sol nem veio, o copo tão cheio, prestes a derramar. Há sempre um gole para te dar. Amigo é assim, chora feito bebezinho, depois colabora. Manda a mágoa embora e entende que a vida é feita de agora. Ontem foi um episódio passado, um seriado ultrapassado, deixa que fique lá. Amanhã a gente já sabe que talvez nem venha. É melhor deixar para lá.
Voltando para onde estou, quem está lendo isso agora? Ficou ou foi embora? Vai encarar mais essa? Pedras e mais pedras no caminho, curvas e ruas sem fim. Cabe a mim, senhora, decidir a porta a abrir. Podem fechar as janelas. Arranca logo as cortinas, meu querido companheiro. Não tenho medo, mentira, morro de medo. Mas guarda em segredo, por favor.
Não leve a sério essas linhas ou deixe-as no fundo do peito. Com todo respeito, peço sua permissão. Deixa eu entrar um pouquinho, por favor, fala baixinho. Deixa só eu te abraçar assim, caladinho, mansinho, devagarinho. Quem pensa que eu desisti perdeu as estribeiras. Estou aqui nem tão inteira, mas de corpo pleno, sem lenço, sem pena, sem barreira.
Vou em frente, minha gente. Não só com a vida que me pulsa da cabeça ao pé, mas com a rima que faço com fé. Para trás vai quem perdeu o caminho. Eu não aceito o labirinto que uns chamam de destino. Nem triste, nem alegre. Nem 8, nem oitenta. Nem mesmo saco, menos ainda igual farinha.
Sou passarinho. Sou rainha.