Os poetas que me perdoem, mas pior do que viver sem amor, é ter que esquecer um grande amor. É ter que reaprender a viver só. É ter que retirar alguém das entranhas da sua rotina a golpes de faca sem corte, porque esse amor resolveu visitar outras cercanias sem a sua companhia. Ou porque simplesmente resolveu ir embora, assim, quase sem avisar. Por que ninguém avisa que um grande amor também pode um dia se acabar? Ter que esquecer uma grande amor, é o não esperar o telefone tocar, porque ele simplesmente não irá tocar. É o acostumar-se com aquela ausência-bigorna a martelar nossa cabeça desde às seis da manhã, quando mal acabamos de abrir os olhos e a vontade é de de repente, talvez, quem sabe, fechá-los pra sempre. Porque quando não se ama, não se ama e pronto. O que fica é aquela vontadinha de ter alguém por perto e só, apesar disso não ser pouco. Mas quando a gente tem que assassinar alguém dentro da gente, essa vontade vira vício. Desespero. Abstinência sem cura. E vida vira um calabouço escuro, por onde a luz passa a entrar aos poucos. Bem aos poucos. Quase não entrando nunca. Eu fui trancada nesse calabouço há um tempo atrás. Não me deram comida. Água. Não me deram nada. O máximo que me chegavam eram uns poucos poemas pela manhã, quando até o sol ainda estava com preguiça. E como ninguém vive de poema, os dias foram passando e com eles, meus melhores olhares. Porque quando a gente precisa ver um grande amor ir embora, é como uma doença que se alastra rápido, sem dar tempo de maiores despedidas. E o luto fica pela casa como um incenso. Pesado como toda perda. Impreciso como toda tristeza. E inesperado, como quase todo abandono.