Vejo luzes na cidade. Percorro ruas e, nelas, os amantes vindos de todos os lugares. Amores de muitas cores e sentimentos ainda mais expansivos. Mas como fica o coração que desistiu do amor? Em duras quedas, assumiu um estado de acomodação. Não acredita. Não escuta. Não sente. Perdeu o cintilar das palavras e dos sentidos que elas almejavam. Relacionamentos instantâneos e passíveis de solidão. Uma pena. Agora, os concretos que formam grandes metrópoles, perdem-se nos abraços não dados e nos beijos contabilizados.
Mas viver é um salto para a libertação. É preciso coragem, paciência e doses inteiras da mais legítima disposição. Porque contrariar esse sentimento quente é navegar em mares mornos. A graça do encontro é o súbito nascer de novo que ele desperta. Nos olhares acolhedores, nos sorrisos transparentes e nos carinhos em tom maior. Mas incomum aqui, o respeito. Reciprocidade do primeiro instante em diante. Sem economia para dizer o que se sente. Sem freios para sentir o que se diz. Enquanto isso, a vida reluz oportunidades.
Tão logo seja o gesto revolucionário, os intensos agradecem. Não seria uma questão amena da falta, mas do derramar sem querer ausência. E assim os indivíduos românticos nascem, crescem e somam. Corroborados pela vontade, não necessitam pedir. Naturalmente, o amor acontece. Benditos os frutos incumbidos sob essa efervescência. Os que bebem do ritmo inebriante, descompassado e tateável da troca. O amor sereno. O amor novo de novo.
Continuo enxergando brilho nos futuros amantes. Ainda não estou preparado para desistir do amor. E desconfio que esse dia nunca chegará. Porque, apesar dos golpes sofridos num passado já interrompido, é no toque cálido dos lábios futuros que a tranquilidade haverá de ser residente. Nada como outras mãos resilientes para reconhecer felicidade por detrás dos caminhos postos à luz de todos. Luzes no escuro.