Somos feitos de material fino extraído da polpa da melhor e mais rara fruta. Da nossa casca faz-se o melhor doce e do nosso recheio serve-se o maior banquete. Somos peças raras da engrenagem da vida, ainda que não saibamos a grandiosidade das nossas pérolas. Não tem a ver com o preço que as pessoas acham que temos, mas com o valor que a gente se dá.
E você? É feito de que? Já pensou sobre isso? Como quer ser ouro se você não se trata como tal? O que você permite é o que merece? Se só temos o amor que achamos merecer, do que estamos reclamando? “O que você deixa é o que vai continuar”. Não sei onde li isso, só sei que é assim.
Esses dias alguém reclamou: “Fulano de tal não dá valor ao que faço”. Porém, pensa comigo: que valor você tem quando mendiga que alguém diga o valor que você tem? Um dia a gente aprende que o valor que dão para a gente é proporcional ao que nós nos damos. Se eu valho mais do que isso, ora bolas, por que permito isso?
É simples. Quando estabeleço meu preço com estima fica impossível tolerar barganha. Quem vai vender um relógio de ouro por centavos? Quando eu falo preço, por favor, não relacione com quantia em dinheiro, ok? Estou falando de outras coisas.
O que falta no mundo não é amor, mas “amar-se”. Quanto mais amor próprio, mais amor ao outro. Gente, é claro que tudo tem limite e ninguém aqui é melhor do que ninguém, beleza? No entanto, para conseguir amar o outro, sejamos francos: há de se amar bem antes. Caso contrário, será como querer resolver uma equação de terceiro grau sem conseguir somar dois mais dois. E isso também não tem a ver com matemática, ok?
O amor próprio é a rega da semente pelo maior conhecedor da planta. Como assim? Ora, quem mais pode cuidar de um tipo de árvore, por exemplo, exceto um conhecedor nato daquilo que faz? Aí está uma função que não pode ser repassada, transferida ou delegada.
Somos nossos jardineiros! “O jardineiro somos nozes”. Por favor, não permita que alguém o convença de que pode fazer por você, pois isso vai acabar numa poda desregular e com consequências irreversíveis. Ah, mas a gente não vive sozinho! Nãããããão, nada a ver com isso! Aceite ajuda dos seus amigos jardineiros, mas o chefe do campo é você, cara!
Imagine um jardim imenso onde cada jardineiro é responsável por sua rega e poda, ainda que ajude a molhar a sementinha do outro, mas foca na sua. Seria incrível, né? Eu sei que pode não ser fácil dependendo da terra ou do tempo, afinal, as plantas passam por longas metamorfoses e diferentes processos de adaptação.
Pode ser que esteja tomando muito sol ou bebendo água em excesso. Talvez não tenha gostado do lugar onde está ou precisa morrer para nascer mais viva. São muitas as possibilidades e todas elas tornam a raiz mais forte. Se a semente não aceitar isso, ora ora, jamais será uma frutífera árvore.
Somos como as plantas, muito embora, às vezes, não saibamos ao certo o valor que elas têm porque dá algum trabalho estudar. Se você acordar todo dia querendo se conhecer um pouco mais, compreendendo que mudanças são necessárias e que, por vezes, também são doloridas, vai começar a entender como as coisas aí dentro funcionam.
É um processo e respeitar o tempo dele também é importante. Somos feitos de memórias (selecione-as bem, você pode fazer isso). Somos feitos de encontros (remarque somente os bons). Somos feitos de sonhos (não os abandone). Somos feitos de luz, mas também de escuridão.
Na luz, irradie-se.
Na escuridão, descanse a alma.
Aceite sua fotossíntese.
Somos feitos do amor que recebemos dos outros, mas muito mais daquele que nos doamos. Somos amor em qualquer situação, até nas mais difíceis tempestades. É o amor que sustenta nossa raiz. É o amor que aduba nossa terra.
Somos feitos do amor que acreditamos merecer.
E aí, quanto amor você merece?
Lindo texto!!