Por Diego Brígido – via Obvious
Este texto começou no silêncio. E se criou no silêncio. Porque o silêncio é um campo fértil de ideias. E ele é nosso, está em cada um de nós, não importa quanto barulho faça lá fora. Os ruídos estão por todos os lados, para quem quiser ouvir, mas a quietude precisa ser buscada. O barulho é da matéria, o silêncio é do espírito.
O mundo exige que façamos barulho, que sejamos barulho. Para mostrar produtividade, para provar superioridade ou para impor respeito. Barulho pra tudo. O bebê, ao nascer, chora para mostrar que está vivo. Nós já nascemos fazendo barulho e nossa mente cada vez mais grita por silêncio.
Os diálogos são cada vez mais vazios, ainda que deveras barulhentos. Não há espaço para o silêncio nas conversas, para a reflexão, para o saber ouvir. E ainda assim, elas nos dizem quase nada. Conversas barulhentas e mudas. Nós não sabemos ouvir porque não sabemos calar.
Diz um provérbio que quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz. Sinto que nossos ruídos vem à tona para disfarçar nossos vazios e para calar nosso silêncio. Quando, na verdade, deveríamos dar voz a ele, voz ao silêncio. Deixar a quietude falar é se permitir refletir, ponderar, compreender e, no caso de um diálogo, significa respeitar o outro, o barulho do outro.
Tenho grande admiração por pessoas que começam um discurso precedido por um silêncio. Isso me faz crer que ali vem um falar pensado e, logo, que existe um grande respeito pelo ouvinte. Há pessoas que pensam tanto antes de discursar, que o silêncio dura mais que a oratória. E esta mudez diz tão mais também. Incríveis estas pessoas.
Muito se fala que o silêncio é essencial para o autoconhecimento e que nós só sabemos de fato quem somos quando nos enfrentamos sem as nossas máscaras sociais. O barulho faz parte de nossa estrutura social e parece nos servir de escudo aos nossos dilemas existenciais. Eu me sinto, muitas vezes, como que boicotando meu silêncio para seguir em paz. A falsa paz que vem do caos, mas que nos esconde de nós mesmos.
A vida nas cidades e todas as ferramentas que nos mantêm conectados com o mundo estão roubando nosso silêncio. E não é apenas o silêncio da boca a que me refiro, mas o silêncio do cérebro, da alma. Passar horas lendo em frente ao computador pode nos colocar em silêncio com o outro, mas não conosco mesmo. O silêncio merece um momento só dele. É como um encontro, mas sem muita cerimômia. Pode ser em qualquer lugar, a qualquer hora, desde que consigamos desligar o barulho do mundo.
Temos por hábito valorizar o silêncio quando estamos no campo, em meio à natureza, afastados dos ruídos da cidade. É mais fácil percebê-lo e permiti-lo chegar. Geralmente saímos revigorados destes encontros com a gente mesmo. É como se tivéssemos descoberto uma nova faceta que o caos teimava em encobrir.
A necessidade do silêncio é tanta que cada vez mais pessoas o buscam nas meditações conduzidas, no yoga ou em diversas outras práticas, como que tentando doutriná-lo. Só é preciso uma coisa pra isso: tempo. Vamos dedicar alguns minutos, alguns dias na semana, para uma conversa franca com a gente mesmo. Na verdade, esta conversa pode ter mais um integrante, este sim, exímio ouvinte, que nos criou no silêncio, mas que está sempre disposto a ouvir nosso barulho. Se você não sabe como começar este papo, aquiete o coração e deixe que Ele conduza a conversa. Em silêncio!