Por Mafê Probst
Eu amei te ver e constatar que você ainda era o mesmo. Seu cabelo bagunçado balançava com o vento. Teu riso tingia tua íris, deixando-a mais céu do que nunca. Percebi, debaixo da camisa branca, que a tua ida à academia continuava firme. Eu amei te ver e saber que você me via também.
O coração disparou quando você caminhou, parando ao meu lado. O perfume invadiu com ferocidade, remexendo sentimentos adormecidos. Você me sorriu, daquele jeito de sempre. E eu te sorri, com aquela timidez presente. Eu amei te ver e perceber que me encaixo no teu cheiro e, confesso, que numa fração de segundos imaginei o tempo que te fazia de travesseiro.
Você amou me ver. Foi o que você disse, palavra por palavra, sem esconder o tanto quanto gosta. Tua mão tocou minha face e eu me desmanchei levemente. Havia tanta história naquele toque. Eu suspirei profundo, lembrando do mundo que deixei para trás quando decidi seguir adiante.
Eu amei te ver e saber como você está bem, mesmo distante. Eu amei te ver e perceber como estou bem, justamente por estar distante. Eu amei perceber que meu riso ainda combinava com o teu, e que tua malícia reconhecia a minha. Eu amei te ver e dançar no teu ritmo descompassado, tropeçar na saudade que deixei para trás e sorrir pelo simples fato de ser.
Você amou me ver e chegou mais perto. Deixou um beijo no meu pescoço que, confesso, estremeceu-me inteira. Você amou me ver e se esforçou para se fazer notar. A energia eriçava nossos pelos. Teus olhos de piscina se demoraram nos meus e você amou ver que eu não mais desviava o olhar. Foi latente.
Eu amei te ver e amei as tuas poesias. Tinha um quê de nostalgia nas linhas que você lia e as rimas eram desconexas para mim, que da tua história já não sabia. Eu amei te ver e reconhecer minhas manias nos teus cacoetes. Vi tanto de mim, que amei te ver. Vi tanto de nós, que amei te ver.
Você amou me ver e tentou me roubar um beijo. Eu te segurei um tempo e te afastei de leve. Você me amou por isso, pois gosta do desafio e eu, n’outras épocas, nunca fui de te desafiar. Você amou me ver e perceber que não mais me reconhecia. Amou minhas novas manias, meu novo corte de cabelo, meu novo jeito de sorrir, mas confessou amar ainda a timidez que me corava de leve as bochechas. Ficou feliz por, pelo menos isso, não ter mudado.
Eu amei te ver e amei me reconhecer contigo. Amei teus traços – tão meus. Amei tua risada – tão minha. Eu vi você exatamente daquele jeitinho que deixei quando parti. Mas eu não sou mais aquela menina que bateu a porta ao sair.
Eu amei te ver e constatar que, por você, não sinto mais nada.