É proibido não conhecer Pablo Neruda
13th June 1966: EXCLUSIVE Chilean poet and activist Pablo Neruda (1904 - 1973) leans on a ship's railing during the 34th annual PEN boat ride around New York City. He wears a cap. (Photo by Sam Falk/New York Times Co./Getty Images)

Por Jéssica Carvalho – via Obvious

O poeta Nereu, Pablo Neruda, é o capitão da poesia chilena. Militante político expressivo e amante das coisas simples, seu amor pela vida foi a sua embarcação mais usada.
Nas águas da vida, não reconheceu fronteiras e adotou o mundo como sua morada.
Não há onda que apague sua história tão pulsante.
Por isso, é proibido não conhecer Pablo Neruda.

Na alegria e leveza de suas palavras de amor ou na franqueza e paz invocada em suas palavras políticas, Pablo Neruda, originalmente batizado como Neftalí Ricardo Reyes, é um poeta que soube viver e encher o mundo de vida.

Antes de personificar-se como a poesia Chilena, Neruda era um estudioso e admirador de escritores de todo o mundo. Assim, quando mudou seu nome de batismo em ação de modificação de nome civil, homenageou os poetas tcheco Jan Neruda e o francês Paul Verlaine, reafirmando seu caráter de cidadão do mundo.

De tão cidadão do mundo era que, em 1927, começou sua carreira diplomática. Lutou contra o franquismo na Espanha ao lado do também poeta Federico García Lorca, assassinado pelos fascistas; o que lhe rendeu o poema “Espanha no coração”.

Espanha no coração

Madrid isolada e solene, Julho te surpreendeu com tua alegria de colmeia pobre: tua rua era clara, claro era teu sonho. Um desejo negro de generais, uma vaga de sotainas raivosas rompeu entre teus joelhos suas lodosas águas, seus rios de escarro.

Todavia, com os olhos feridos de sono, com escopeta e pedras, Madrid, recém-ferida, defendeste-te. Corrias pelas ruas deixando estelas de teu santo sangue, reunindo e chamando com uma voz de oceano, com um rosto mudado para sempre pela luz do sangue, como uma vingadora montanha, como uma sibilante estrela de facas.

Quando nos tenebrosos quartéis, quando nas sacristias da traição entrou tua espada ardendo, não houve senão o silêncio do amanhecer, não houve senão teu passo de bandeiras, e uma gota de sangue em teu sorriso.

Foi ativista do Partido Comunista do Chile, foi Senador, foi candidato à presidência do Chile, apoiou Salvador Allende, homenageou Luis Carlos Prestes no Estádio do Pacaembu, recebeu o Prêmio Lênin da Paz, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, escreveu, encantou, inspirou, emocionou, se apaixonou.

Uma de suas paixões mais fortes era o mar. “La Chascona” é o museu em que fora transformada sua casa em Santiago do Chile, na qual podemos sentir a suavidade e firmeza em que levou sua vida. Com diversas peças e mobiliário que fazem menção ao mar, era assim que Pablo Neruda vivia: como quem navega amando o balanço, mas não perde a direção de seu barco nas ondas fortes.

A casa também possui diversos jardins, bibliotecas que afirmam seu amor pela leitura, fotos com amigos poetas, pequenas salas de reuniões e bares para receber amigos e fotos de sua amante Matilde, a quem havia dedicado “Os Versos do Capitão”.

Os Versos do Capitão

Ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Além disso, tudo em sua casa é muito colorido e diversos objetos de decoração são presentes de amigos e lembranças dos vários lugares em que esteve. Sua casa é um verdadeiro santuário de arte mundial e uma prosopopeia de felicidade, amizade e amor.

O que, ademais, desperta interesse é perceber que em diversos alpendres de portas e portais e em algumas árvores percebemos pingentes de desenhos de olhos.

São os olhos do poeta que, sempre vigilantes e sensíveis, foram capazes de ver o bonito e admirá-lo, capazes de enxergar o feio e neutralizá-lo, desarmando-o.

Foi através desses olhos que Neruda viu o mundo; e através de sua escrita que o reformulou, analisou, sentiu e viveu.

Por isso, mas na verdade por muito mais, é proibido não conhecer Pablo Neruda. É proibido não ver um pouco a vida pelos seus olhos. Nos versos seguintes, somos brindados com uma verdadeira lição de vida, de quem a viveu cheio de suavidade e delicadeza:

É proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Mesmo com a vida abreviada por uma doença, não foi breve sua lida nem sua lição.

É um presente conhecer seus versos e sua história. Apaixonar-se por suas linhas, encher o coração de paz, não se envolver por qualquer outro sentimento que não sejam aqueles que inspirem amor e amizade.

Desta forma, é um desperdício não navegar por estas águas poéticas que Pablo Neruda nos proporciona. Estes versos que resgatam sonhos e fazem crer que tudo pode ser muito mais belo, se vistos com os olhos certos.



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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