Por Kananda Magalhães – via Obvious
Então convidaram você para ir ao cinema e você respondeu “não tenho tempo”? Cuidado, pois se essa resposta for recorrente em sua vida, você está correndo um sério risco de morte. A morte das coisas boas que fazem a sua vida ser melhor.
Século XXI, ano: 2016. O mundo nunca foi tão rápido quanto agora. Somos milhares de seres humanos absurdamente atarefados e loucamente sedentos por um dia que dure 30 horas ao invés das parcas 24 que Deus nos deu. Porque 24 é muito pouco. Não serve para dar conta de tudo aquilo que precisamos fazer em um dia, e isso nos estressa. Nos deixa irritadiços e pouco propensos a sermos “pessoas legais”. E a gente abre mão de muita coisa por causa dos nossos intermináveis compromissos… A gente vai deixando de viver, vai deixando de lado o que nos diverte ou nos relaxa, ou o que apenas consegue tirar de nós aquele riso fácil.
Eu sei. Todos somos pessoas responsáveis, com obrigações a serem cumpridas, metas a serem batidas e trabalhos a serem entregues. Não estou dizendo que devemos assassinar nossa vida profissional e acadêmica e nos mudarmos para a praia, sobrevivendo apenas de sol e água de coco. O que estou dizendo é que não podemos assistir calados enquanto nossa vida profissional e acadêmica comete homicídio doloso contra a nossa humanidade, contra os nossos sentimentos, contra quem somos de verdade. E aí a gente diz que “não tem tempo”. Vamos refletir: quantas vezes já ouvimos essa resposta ao convidar um amigo para ir ao cinema, ou para tomar um café rápido? Foram inúmeras, aposto. Quantas vezes deixamos de ver alguém que nos é precioso por culpa dos trabalhos acumulados na faculdade? Quantas vezes tivemos que faltar naquele jantar de aniversário com toda a família porque preferimos ficar no trabalho até mais tarde para adiantar as coisas? Quantas vezes deixamos de ir assistir aquele show daquela banda que amamos porque no dia seguinte tínhamos que acordar cedo?
As obrigações e os compromissos têm feito isso conosco. Têm devorado nossa rotina, escravizado nosso tempo e aos poucos têm nos matado de saudade. Saudade das risadas sem motivo com os amigos, saudade das mãos dadas no cinema, saudade da piscina com os primos, saudade da corrida pela praia com o cachorro, saudade da maratona de episódios daquela série preferida. Tudo porque nos contentamos em dizer “não tenho tempo”. Pois eu tenho uma notícia surpreendente para vocês: Nós temos tempo sim. Parem de mentir, parem de inventar desculpas. O tempo é mera questão de organização e de certos sacrifícios.
Mesmo que achemos que não vai dar, que as 24 horas não vão dar conta, a verdade é que um dia suporta tudo. Basta que aprendamos a tirar dele o melhor que ele pode oferecer, basta que saibamos regar o tempo dando a ele a possibilidade de florescer. Sacrifícios, às vezes, serão necessários, precisamos entender isso. Terminar aquele trabalho tarde da noite porque foi ver o pôr-do-sol com os amigos na praia. Gastar o horário de almoço conversando com o primo que mora no interior mas foi visitar a família na cidade. Deixar o relatório pro dia seguinte porque é aniversário da namorada.
Tudo bem. Você dormiu tarde, você não almoçou, você não adiantou o trabalho. Mas você se lembra das risadas que deu com os amigos? Você lembra das boas novidades que o primo trouxe? Lembra do sorriso da namorada ao ver você? Pois é. Valeu a pena. Os sacrifícios têm seu preço, mas o fruto sempre é bom. O seu coração agradece, a sua alma agradece, o seu espírito agradece. E com certeza os seus amigos, o seu primo e a sua namorada também vão agradecer.
Mais uma vez eu repito: isto aqui não se trata de uma ode ao descompromisso, de uma apologia à irresponsabilidade. Trata-se de um lembrete de que não faz bem pro coração viver apenas para os compromissos. Se deixarmos que as coisas de adulto se apossem de nós indiscriminadamente, o que vamos nos tornar? Aonde vão parar os nossos relacionamentos? Organizar esse tempo que corre tão depressa é o segredo de tudo. É a chave para que as coisas deem certo. É a solução para que possamos terminar o trabalho e ir ao cinema depois.
Então, faça um favor às pessoas que sentem sua falta: organize seu tempo, sacrifique algumas coisas e vá vê-los. Elimine sumariamente da sua vida essa insuportável mania de dizer “não tenho tempo”. Você tem tempo. Você pode. O dia vai estar lá para que você o utilize sabiamente, então floresça o seu tempo. Isso fará bem ao seu coração e com certeza tornará o peso da rotina um pouco mais leve.
Vá lá. Marque esse cinema que vem sendo tão adiado. Reserve aquela mesa perto da janela no restaurante. Compre brigadeiro para comer com sua mãe enquanto assiste novela mexicana. Diga, sem medo, receio ou desconfiança: Eu posso, sim. Eu tenho tempo. Vamos nos ver. E dito isto, pode abrir aquele sorriso.