Amor é o que acontece quando deixamos de ser mala

Convenhamos que escolher não amar é moleza. Quem não se entrega ao amor não precisa lidar com algumas frustrações, não precisa passar noites inteiras acordadas, não precisa ter que esperar nada para seguir em frente.

Eu já acreditei que era possível não amar ninguém. Mais ou menos como se no nosso coração tivesse um espaço desocupado, completamente vazio. Como aquele imóvel que fica fechado por anos e parece que o dono não tem pressa em alugar.

É fácil tomar essa posição de escolher ficar só. Solteiro por opção é uma espécie de egoísmo mais nobre, e temos sacralizado o modelo como se fosse a melhor coisa do mundo.

Quem não tem alguém não tem tanto trabalho. Não tem nada que se importar. Não tem a aflição de tocar o celular e torcer para que seja aquela pessoa, não tem euforia ao receber uma mensagem, não fica com o coração acelerado só de ouvir o barulho do Whatsapp apitar. Não precisa se preocupar como está sendo o dia de outra pessoa, não precisa ter que se calar as vezes, não tem necessidade de se desculpar com ninguém, muito menos ter que deixar o orgulho de lado em favor de uma relação.

É cômodo. Não sofre com os silêncios, com as pausas, com a indiferença. É só sentar a cabeça no travesseiro e pensar numa desculpa para não ligar mais para um casinho ou outro que vai arrumando por aí. Envolver-se custa caro demais. Custa um “Hoje não posso. Combinei outra coisa com minha namorada”.

A vida é bem mais descomplicada sem amor. Não tem que lidar com o friozinho na barriga do “Precisamos conversar”, não tem o desencanto com o comportamento do outro, a desilusão de expectativas não alcançada. Enfim, a gente come bem, dorme bem e o intestino funciona perfeitamente. O stress visita, mas vai embora entre um copo e outro de qualquer bebida. Ser solteiro por opção é coisa simples.

O amor é para o outro.

É por isso que muita gente vê o amor como uma prisão de segurança máxima e vive como um fugitivo intenso de compromisso, vive desconfiado, se esquivando de todo algo sério que surge em sua frente. Todos os seus relacionamentos tendem a ser transitórios e breves. Acaba preferindo os amores curtos, limitados e perecíveis porque no fundo é bem mais tranquilo.

O amor que vale a pena só se apresenta para aqueles que não tem seu próprio umbigo como foco. E apesar de prometer que não vai mais amar e faz planos para evita se apaixonar, sabem que um dia, uma hora, precisarão mudar seus comportamentos voltados para si mesmos.

O amor é um investimento demorado, as vezes fastiosos, eventualmente esgotante e só serve para quem não gosta de conforto. Para quem leva a sério, o amor não é só recreio.

Somente aqueles que deixam de ser malas conseguem se livrar de amores sem sentido e possuem enormes chances de transformar um amoreco em uma coleção de histórias a dois. Só eles sabem que precisam se reformular muito antes de levar a sério um relacionamento.

Alguns são canalhas suficientes para continuar sendo, e outros, pegam a marginal com o retorno sentido o caminho do amor, pois ele acontece somente quando deixamos o vício de ser mala com orgulho.

Fonte – Casal do Blog



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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