Tudo bem. Me enganei. Não eram só duas estações de metrô. Eram quatro. Andamos o equivalente a quatro estações de metrô a pé. Eu a convenci que seria fácil, rápido e bucólico, caminhar até a loja de discos pela calçada esburacada, de salto. Chega! Estou cansada! – e Monick parou, do nada, como se a tivessem jogado numa cápsula criogênica, daquelas em que congelam alguém para acordá-lo num futuro melhor.
Desde esse dia, sempre que escuto alguém, que consolo alguém, que consolo a mim mesmo, e sempre que aquelas mesmas palavras aparecem – Estou cansado! – a minha resposta é a mesma – Então pare, ué. Pare. Pare agora mesmo. Pare a confusão, pare o sofrimento, pare a dor, por dois segundos que sejam. Parar é uma escolha sua. Pare o medo, pare o apego, a dependência, a insegurança, o ego, pare de se vitimizar pela incapacidade dos outros de te amarem direito.
Tudo bem, talvez você tenha se enganado também. Talvez tenha superestimado sua capacidade, seu trajeto, o caráter dos outros, sua capacidade de permanecer puro nos seus próprios sentimentos. Então, se está cansado, só pare. Pare agora mesmo o que está evitando fazer. Muna-se do seu pijama que não julga, seus filmes que não exigem demais ou sua música preferida que já te conhece tão bem. Esse é seu dia maia fora do tempo, seu domingo sonolento em plena quarta-feira, sua greve serena até que o universo decida negociar.
Tudo espera, ainda que não por muito tempo. Se não sabe o que fazer, não faça. Se não sabe o que escolher, escolha não ter que escolher. Só pare. Não se sinta covarde ao fazê-lo. Os covardes não são os que param, mas os que fogem. Os que param ainda estão enfrentando seu oponente de frente, como um samurai que cumprimenta seu inimigo solenemente, antes de matá-lo. Mesmo na criogenia não há garantias de futuro melhor. Na pausa que cura, no espirar que revigora, na esperança futura, quem melhora é a gente.
Parar. Ter tempo pra si. Ter tempo pra descansar. Ter tempo. Tomar tempo