Por Luiz Menezes
O amor é aquele carinha da sua escola, da primeira série, que te xingava de um milhão de palavrões infantis só porque você tinha os dentes da frente abertos. O amor é aquela caixa de morangos que parecem estar maravilhosos e, quando você abre, descobre que todos os que estavam no fundo estão podres. O amor é aquela seção de calças de cintura alta perfeitas, tamanho 32, que não cabem nem mesmo em modelos.
O amor não é justo. E, talvez, o problema resida não no sentimento em si, e sim no timing. Duas pessoas, quando se encontram, têm a possibilidade mínima de se encontrarem no mesmo estágio de vida. Não importa se você é magra, loira e tem os olhos azuis, se o cara não tá a fim de namorar agora. Não importa quantos gominhos você tenha na sua barriga malhadíssima, se o outro te acha um saco. Conheci muita gente e me apaixonei por cada uma delas – paixão é sim, uma forma mínima de amar, por menor que seja. Conheci gente demais em tempos errados demais. Hoje, percebo o quanto estive errado em cultivar mais expectativas do que a mim mesmo. Descobrir-se é a primeira etapa do processo “amar”: amar a si mesmo. Amar quem você é, na essência. Decidi aos nove anos de idade que iria ser publicitário. Hoje, percebo o quanto me envergo em caminhos diferentes e alternativos, por poder, livremente, ser o que sou. Cada um de nós deveria, antes de tudo, descobrir-se. Abrir-se ao mundo. Há muito a ser explorado, tanto em sua alma, quanto em seu corpo, quanto em seu bairro – imagina o quanto pode haver no mundo inteiro, então. E, o amor (ok, papo de auto-ajuda, mas que jamais deixará de ser verdade) só é possível quando descobrimos que o outro está ali para somar, e não completar. Não podemos enxergar no outro qualidades que sentimos não existir em nós mesmos – o que cheira a inveja – e muito menos esperar que o outro nos trate como uma mãe ou um pai. Carência demais é doença. Agarrar a primeira coisa que se vê só mostra o quão fraco e necessitado você se torna a cada segundo em que está sozinho. Desejar a companhia de alguém é uma coisa; imaginar o outro como um escravo particular para curar suas inseguranças é outra.
E é por isso, e por tudo que ainda posso ser, que descobri – e, por mais incrível que possa parecer, me apaixonei por esta possibilidade – que não estou pronto para amar. Não estou pronto porque ainda tenho muito a fazer – conhecer o mundo é só o primeiro passo. Sair da sua zona de conforto te traz tanta, mas tanta lucidez que voltar para a caverna torna-se impossível – obrigado, Platão. Construo-me com passos leves, calmos e muito – mas muito mesmo – despreocupados. E acho que esse é o melhor conselho que poderei dar a alguém, quando me perguntarem sobre felicidade.
Vá ser feliz com você mesmo. A única coisa que te merece é o mundo – não somos prêmios particulares, nem bônus de celular, nem números da Telesena. Somos indivíduos que, querendo ou não, doendo ou não, nascemos e morremos sozinhos. Encontrar alguém que, ao invés de nos roubar, queira nos acompanhar nessa jornada, é sua árdua missão particular – recebe-se o que se é refletido. Se atrás de você só tem gente louca, quem está de ponta-cabeça é você (nota particular). Descubra-se. Valorize-se em todos os seus trejeitos. Use algo mais curto (ou mais comprido). Dance. Viaje. E, quando, por poesia – por descuido não, por favor! -, alguém queira ficar, que seja para acrescentar.
Porque o amor não é justo. Mas ele há de acontecer, um dia.
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