Coisas que temos, coisas que não precisamos

Por Gustavo Araújo

Christopher McCandless, um jovem americano, ganhou o mundo em sua biografia nas telas dos cinemas em 2007 dirigida por Sean Penn, baseado no livro de Jon Krakauer. McCandless ganhou fama devido a aventura que fez no ínico dos anos 90 em direção ao Alasca, abandonando a vida média alta que tinha por problemas familiares e por seu desprezo pelo materialismo na sociedade.

Descontente, ele prefere se isolar do mundo e procurar a felicidade nas coisas simples da natureza e entrar numa vida individualista, até mesmo mudando seu nome para Alexander Supertramp, como se esse fosse um avatar de uma nova pessoa, que é quem ele gostaria de ser.

Num cenário mais moderno do que McCandless estava, nos encontramos nos dias de hoje, mas com um aspecto parecido: a do individualismo.

Não é novidade que cada vez mais, sem percebermos, somos “empurrados” a acompanhar o que a tecnologia tem de novo a oferecer. E como essa tecnologia significa maior conforto, nos esbaldamos e ainda queremos mais.

Analisando o que toda essa modernidade traz a sociedade, nem tudo é flores. Parafraseando Isaac Newton, pra toda ação tem uma reação. O que pode nos levar a concluir que o que hoje vem pra facilitar nossa vida, pode acabar nos afastando do sentido de se esforçar mais para obter algo, nos acostumando a ter tudo à mão.

Exemplo disso é o GPS, que pode nos tirar de enrascadas numa viagem. Eles traçam todo o caminho que devemos percorrer, fazendo que nem precisemos nos comunicar com uma pessoa na rua. E é aí que perdemos a chance de conhecer alguém e de possivelmente coletar informações importantes e, claro, de ouvir ótimas histórias. E exemplos do dia a dia são os constantes aplicativos disponibilizados para celulares que se podem fazer quase tudo, onde quer que você esteja.

Vemos também crescer o número de pessoas em ônibus ou metrôs indo trabalhar com seus iPods e fones de ouvido, quietos em seus cantos, quase como uma placa no pescoço escrito “não quero conversar”. Ou o extermínio das videolocadoras que, observando hoje, percebemos que na maioria das vezes íamos com amigos escolher um filme e que assistíamos todos juntos. Hoje, fazemos o download e assistimos no computador, sozinhos.

Engraçado analisar que o ser humano, juntos, ajudam o individualismo crescer. Com o desenvolvimento da sociedade capitalista, a busca pelo consumo do comodismo aumentou. O convívio social está cada vez mais escasso. As pessoas, pelo menos a maioria, já não fazem tantos esforços para se encontrarem, acreditando que manter contato online já é o bastante. Sem que percebam, com o tempo esse contato vai se esvaindo, até que em algum momento, desaparecerá.

Observando fragmentos de Nietzsche, o mesmo afirma sua visão sobre a formação da civilização, que foi necessária força física para “adestrar” os mais fracos a obedecerem regras. Acreditava que os homens foram domesticados a não seguir seus instintos. Hoje parece continuar o mesmo, pessoas sentindo a necessidade de acompanhar o que as empresas estão produzindo de novo. Pode não ser a realidade de todos, mas é o desejo de muitos.

Completando ainda com o argumento de Max Weber, ele define que o indivíduo que não se adaptar ou se conformar com as relações de mercados e ações capitalistas, é jogado às ruas sem trabalho.

Alguém contra esse tipo de pensamento foi Henry David Thoreau, quem acabou virando referência e influenciou o anarquismo individualista. Era a favor de desfrutar a terra sem possuí-la. E com essa filosofia, ele foi morar sozinho no meio de uma floresta aos 27 anos de idade, com medo de que na hora da morte descobrisse não ter vivido de verdade. E sem coincidências, foi um dos filósofos que influenciaram McCandless em seu abandono da vida em sociedade.

Logo, o problema não é a tecnologia, pelo contrário, ela nos ajuda. O problema é o que fazemos com ela. É preciso haver equilíbrio. Contudo, podemos buscar ser felizes como acharmos melhor. Como o filósofo Kierkegaard diz, o importante para o ser humano é deixar de viver por hábito e encontrar algo por qual queira viver e morrer.

E assim como descreve em sua biografia, Christopher McCandless aprende que a felicidade só é verdadeira quando compartilhada. Que depois de aprendido, compartilhemos a nossa também, mas que seja muito além das redes sociais.

Para ler mais do autor acesse Obvious – O que eu vi



LIVRO NOVO



Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui