Por que você faz papel de trouxa?

 

Nos últimos dias, tenho lido muitos textos sobre pessoas que se dizem vítimas de sua própria bondade.

São àquelas que se colocam à disposição para desempenhar um papel generoso na vida de alguém e logo viciam, começam com pequenos favores e de repente, esquecem a própria vida e se doam de corpo e alma para o outro.

Ajudar as pessoas é uma missão louvável, desde que você saiba exatamente o quanto pode se dedicar àquela tarefa e o quanto essa “ajuda” não vai sacrificar uma parte importante do seu tempo que deveria ser preenchida com gentilezas em prol da sua própria felicidade.

Algumas relações têm objetivos bem delineados e prazo de validade estabelecido.  Acompanham o tempo de duração dos benefícios e ponto final.

Aquela história de “uma mão lava a outra” simplesmente não funciona. A ajuda, o “socorro” é sempre unilateral e você se flagra sempre se doando mais que o necessário, correndo pra cumprir compromissos que não são seus, se sacrificando pra estar presente onde você não se encaixa e não chega a ser nem um adorno, ou seja, você é praticamente um trouxa profissional.

Não é que vai cobrar retorno pela gentileza que faz nem ficar fazendo conta e anotando as alegrias que proporcionou a alguém, considerando que a gratidão é atitude fora de moda nesses tempos “líquidos”, o mínimo que se espera é um agradecimento.

Mas não é isso que acontece. Sua “generosidade” é considerada apenas mais um ato de quem está disponível demais, com o coração escancarado enquanto o outro apenas aceita o “serviço”.

Torne-se indisponível quando perceber que está desempenhando sucessivos “papéis de trouxa”. Não se doe exageradamente a ponto de colocar em risco o seu amor próprio.

As boas relações não precisam de amostras e consideração de afeto o tempo todo, elas se sustentam pelo que têm de sólido e verdadeiro, e isso inclui todos os sentimentos benéficos e a reciprocidade.

Ser bondoso não significa ser “profissional em fazer papel de trouxa”. Ninguém quer ser ludibriado ou se sentir culpado pelo bem que faz.

A bondade e a culpa não andam juntas. Abandone essa mania de estar sempre disponível para os outros enquanto sua alma esperneia.

Abandone os favores improdutivos e as amizades temporárias. Saiba direcionar essa explosão de bons sentimentos para o que/quem realmente precisa e agradece.



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ESTER CHAVES é uma escritora brasiliense. Graduada em Letras pela Universidade Católica de Brasília e Pós-graduada em Literatura Brasileira pela mesma instituição. Atuante na vida cultural da cidade, participa de vários eventos poético-musicais. Já teve textos publicados em jornais e revistas. Em junho de 2016, teve o conto “Os Voos de Josué” selecionado na 1ª edição do Prêmio VIP de Literatura, da A.R Publisher Editora.

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