Para ser feliz é preciso escolher o que nos faz bem

Quanto vale um domingo? Quanto vale uma semana, um mês ou um ano de nossa vida?

Eu diria que o tempo vale ouro, mas como nascemos com ele em abundância parece corriqueiro vendê-lo barato.  Parece normal gastá-lo para fazermos coisas que não nos completam, coisas alheias à nossa vontade.

Quanto tempo falta para terminar a aula chata da matéria não apreciada? Quanto tempo falta para chegar o fim de semana, as férias… o próximo ano? É comum que passemos parte de nossa vida a contar quanto falta para acabar alguma coisa e não nos deleitando com o deslumbre do instante que vale por ele mesmo, com o deslumbre do instante no qual encontramos nossa aptidão, aquilo que parece perfeito para nós, aquilo que faríamos pelo resto da vida sem nos cansarmos.

E sabem, não é difícil distinguirmos esse instante mágico dos demais. Nele a vontade é sempre maior que o medo e a ânsia pelo passar do tempo desaparece. Nele nos refastelamos com a vontade de permanecer. Tocamos carinhosos a felicidade e a puxamos, decididos, para nós.

Quando nos acostumamos a fazer as coisas de forma automática, preenchendo requisitos, desanimados, estamos vivendo como aquele aluno que se esforça para passar na média. Que deseja apenas passar de ano. Um aluno que terá sempre o mesmo anseio até que todos os anos passem e a vida diga que já não existem mais anos para serem passados e vividos.

E é muito fácil se graduar na escola da tristeza. É só seguir planos traçados por outros, tendo o peso das escolhas retirado das costas. Mas escolher é uma característica inerentemente humana que nos define, que diz de nossos valores. São nossas escolhas que contam quem somos aos que conhecemos na vida. Se não escolhêssemos seríamos gatos, pássaros ou peixes e faríamos o que nossa espécie e instinto nos dita, sem pestanejar.

A natureza humana que nos habita permite que cada um de nós tenha características únicas e apaixonantes. Às vezes nasce um artista em uma família de advogados, às vezes nasce um músico em uma família de médicos, às vezes nasce uma dançarina em uma família de engenheiros. Isso é simplesmente maravilhoso. A diversidade é enriquecedora. Contudo quando o artista resolve que ser advogado é o mais apropriado, o músico resolve colocar a viola na sacola e se dedicar à medicina forçadamente e a dançarina abandona os rodopios pelas pranchetas e cálculos matemáticos, contra sua vontade, é desastroso.

Nos deixarmos nivelar pelo que o mundo acha mais rentável, mais pé no chão, mais apropriado, é sufocar em nós a natureza humana que nos habita, é deixar para trás a tão almejada felicidade.

Que nós levemos o tempo que for preciso para descobrirmos onde mora a nossa felicidade, mas que ao encontrá-la, possamos ter força suficiente para não a abandonarmos por nada. É na descoberta daquilo que nos faz bem que mora o deslumbre de uma vida vivida e não sobrevivida.

Nossa vida, por vezes, pode até parecer um ensaio, mas ela é pra valer. Ela não volta. Escolhas nem sempre são fáceis, contudo são extremamente necessárias. Escolher o que nos traz felicidade depende apenas de nós. Parafraseando Renato Russo, é sempre bom lembrarmos que a primeira vez é a nossa última chance.

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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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