“Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.” (Caio Fernando Abreu)
Somos sempre motivados a continuar tentando e investindo em nossos sonhos e naquilo que já temos conosco, como se desistir não fosse uma opção viável, em nenhuma situação. No entanto, desistir pode ser nossa única opção, em determinados momentos de nossas vidas, para que nos libertemos de algo ou alguém que emperra o fluxo de nosso caminhar.
Em um mundo cuja tônica encontra-se permeada pela busca incessante do sucesso, o êxito é supervalorizado, em detrimento dos fracassos, vistos como vergonhosos e indignos de nota. Com isso, somos obrigados a entrar nesse jogo cruel da busca pelo sucesso na vida e do sorriso crônico estampado no rosto, acossados pela necessidade de sermos felizes e bem resolvidos em todos os setores da vida.
Entretanto, os erros são extremamente importantes, para que consigamos refletir sobre as suas causas e possamos mudar o rumo de nossas ações, no sentido de superá-los. Somos resultado de tudo o que escolhemos, de tudo o que fizemos, de tudo o que sentimos ao longo de nosso crescimento. Como estamos sempre crescendo e seguindo adiante, podemos – e devemos – repensar e redirecionar nossos caminhos, todos os dias.
Em meio a isso tudo, poderemos nos ver em certas situações sufocantes que necessitarão ser tiradas de nosso caminho, para que não paralisemos nosso respirar. Ou seja, algumas vezes teremos que desistir, sim, seja do casamento que desmoronou em meio a aviltamentos e ecos vazios, do emprego que se resumiu a insatisfações e ausência de dignidade, da amizade falsa, do amor que machuca, da paixão que fecha portas, seja de uma carreira sem perspectivas, de uma faculdade que desloca, ou de um estilo de vida que desumaniza.
Nesses casos, desistir torna-se uma questão vital, a única saída possível, para que possamos reconstruir nossas vidas, juntar os cacos e manter o ritmo compassado em busca de uma jornada digna, honesta e saudável. É preciso, sobretudo, lutar pelos nossos sonhos, mantendo-os acesos e cheios de esperança, pois nossa sobrevivência depende de que consigamos vislumbrar amanheceres com luz, transparência e possibilidades reais. Não somos merecedores de sofrimentos arrastados por armadilhas a que nos acorrentamos pelo medo de nos libertarmos de acomodações nocivas.
Necessitamos, portanto, ter a consciência de que existem perdas extremamente necessárias, uma vez que oportunizarão nossa ida ao encontro de algo bem melhor e de pessoas que entrarão em nossas vidas para enriquecê-las, somando e avolumando nossas conquistas, ajudando-nos a concretizar os nossos sonhos. Muitas vezes, não vence quem ganha, mas quem aparentemente não logra sucesso e, na verdade, está desistindo nada menos do que daquilo que impede o seu incessante crescimento em busca da manutenção da esperança em ser feliz, onde e com quem estiver. Isso, sim, ainda que ninguém perceba, é determinação e sucesso, pois então teremos vencido nosso maior oponente, qual seja, nós mesmos.