Incrível como o tempo escoa e se dissolve, mas algumas recordações não pegam a poeira do esquecimento. Algumas memórias não desbotam e nem saem de moda. Sabe por quê? Porque são limpas. Nunca se sujaram com a maldade dos achismos. O seu riso abre um leque de possibilidades e permanece aqui comigo, nos dias e nas coisas mais sutis. Sabe aquela ideia serena de construir algo com as próprias mãos? O amor é feito disso. Dos gestos que constroem cumplicidade. Das emoções que se eternizam. O amor é isso… essa disposição do querer, da graça de disponibilizar o coração para o outro entrar, sem armas, sem fazer perguntas, sem alardes, só sendo ele mesmo, com toda sua bagagem histórica; erros, acertos, profundidades e silêncios. Sim, o outro nunca será perfeito, não terá o padrão que a revista informou, o outro não é a sua indústria, não é o seu objeto, não é o seu depósito de expectativas. É o seu amor. Você deve esperar que ele falhe mesmo. Não propositadamente, é claro. E nem dando aquela pisada memorável na bola, mas falhe como todo humano… para experimentar o ápice de sua experiência ontológica. Permita-se receber os rascunhos daquele que ama, ele nunca será o mesmo. Lembre-se do que Heráclito disse sobre banhar-se no rio, as águas que passam nunca são as mesmas e nem o rio pode manter-se intacto com a renovação do fluxo — o seu amor é o rio, você é o rio, nós somos rios de turvas águas — em eterna mudança. Eu sei, muitas vezes a vida pesa e vira uma sinfonia de cansaços e dores indeléveis. Mas, mantenha-se disponível às águas que correm. Sinta o vento acariciar o seu rosto. Ouça o rumor dos passos… é o seu amor chegando… abra a porta! Os dias viram as páginas e a mudança sempre acontece no “de repente”. Acredite… e rascunhe-se também! Lembre-se de “outrar-se”, e experimente várias versões de si mesmo. Você poderá se conhecer melhor, assim de si para si, sem a exigência de adivinhar-se de súbito, apenas rascunhando-se devagar…