Hoje acordei com vontade de colocar a mochila nas costas e sair rumo à sabe-se-onde. Logo eu que nunca gostei de sair de perto de casa. Sempre acomodada no quentinho da minha cama e na proteção do meu quarto. Mas agora cansei do meu papel de parede e percebo que aquele quadro nunca deveria ter ido parar ali.
Guardei dentro de mim os mais diversos devaneios e esqueci de compartilhar com alguém. Estava muito ocupada com os meus fones de ouvidos para perceber a presença de qualquer pessoa ao meu redor. Só mais uma música, agora só mais uma, a última… e de repente acabou o dia e estou sozinha.
Não lembro do que tinha tanto medo, talvez uma pessoa do passado tenha me mostrado o valor de uma fechadura, uma vez que uma porta aberta pode fazer muito estrago a um coração. Porém, a lembrança está distante e quase sinto vontade de me destrancar de novo.
Fiz do meu coração um cofrinho, juntando moeda por moeda que encontrei em cada lugar que pertenci. Precisei sempre guardar comigo os momentos para não correr o risco de esquecer. Mas não lembrei do mais importante, guardar a companhia de alguém ao meu lado.
Guardei no meu cofrinho moedinhas de sentimentos porque pareceu mais seguro do que andar por aí com elas na carteira. E se alguém me roubasse? E pior, e se eu visse algo na vitrine que me desse vontade de gastá-las? E se depois de gastá-las eu percebesse que foi um mau negócio? Então pareceu melhor que ficassem só comigo.
Mas hoje o dia amanheceu diferente. O conforto do meu casulo me pareceu apertado demais. Me deu vontade de soltar, voar. E o meu cofrinho já parece tão pesado. Não cabe mais nenhuma moeda. Chegou, finalmente, o momento em que não há mais medo em quebrar. Quebrar barreiras, quebrar casulos e quebrar o cofre. Este que tanto enchi e protegi, mas que ficou pesado demais para eu carregar sozinha.
Deixo o orgulho de lado e percebo que não sou tão forte e que tudo bem dividir o peso com alguém. Quem sabe alguém também não tenha um cofrinho tão pesado quanto o meu e esteja precisando de uma ajuda para carregar.