Por Ester Chaves
Alguns dias são confusos, a alma reclama, pede colo e tudo parece naufragar num turbilhão de dúvidas. Os sentimentos não têm legenda e fica tudo assim por desvendar.
A cabeça dói, o corpo esmorece e as coisas parecem cobertas por uma espessa camada de descrença.
Paciência é uma virtude que poucos têm. Porque é um exercício que depende muito do autoconhecimento. Conhecer é mais profundo do que apenas traçar um perfil de si mesmo e receber isso como a verdade. A verdade é que não existe verdade absoluta quando se trata do ser – esse misto de sentimentos contrários e contraditórios, e por isso mesmo, belo por admitir-se tão cheio de arestas.
As situações não se repetem e não existem treinos no viver. O nosso olhar e comportamento são ajustáveis. Temos a mania de achar que esperar é não fazer nada, não agir, não buscar evolução, não dar um passo sequer. Esperar é justamente ter a confiança naquilo que já foi feito e buscar outras possibilidades sem o peso da resposta imediata. Sem o martírio da cobrança. Sem o sofrimento antecipado. Sem os fantasmas do “se”. Esperar é continuar…
Dentro de toda espera existe aquela fagulha que se movimenta para a realização daquilo que se pretende alcançar, que é sombra de uma certeza que não podemos vislumbrar claramente, mas é o que coloca o nossa alma novamente em ritmo alegre. É como se ela compreendesse que toda espera possui esse quê de filme de suspense e de vez em quando os pulos são necessários para acordar a esperança.
Se a alma pede colo, sabemos que é possível aconchegar-se no amor do outro, sentir-se protegido em um ombro que nos acolha e nos transmita tranquilidade. Mas é preciso saber embalar a própria alma e às vezes deixar que ela durma um pouco, descanse dos vendavais cotidianos e depois, acorde mais descansada e disposta para brindar as alegrias que a vida oferece.
É verdade, “é preciso saber embalar a própria alma e às vezes deixar que ela durma um pouco”. Sua escrita é maravilhosa, Ester, e deixa a gente sempre querendo mais.