Quando a sua primeira sobrinha anuncia o casamento, você se muda de si. Dorme na varanda do seu eu por alguns dias para compreender o que houve. Desabilita o celular. Desmarca os compromissos. Começa uma dieta perigosa. Não aceita convites para jantares ou almoços. Se esconde no quarto e espera o fim do mundo com as mãos na cabeça.
Quando sua primeira sobrinha anuncia o casamento, você se sente sozinho no mundo. Não entende por que aquela criança resolveu adulterar a infância e pular etapas sem avisos prévios. Você fica lento, tentando desempacotar a memória e resgatar a última vez que preparou o achocolatado. A última vez que você preparou a papinha e ela rejeitou jogando tudo na sua blusa. E você não brigou porque ela é tão linda e você tão louca por ela, que isso só fez com que você multiplicasse o número de beijos e olhares apaixonados.
Aquela criança, meu Deus… que dormia no seu colo já mandou fazer os convites. Aquela criança que tem os olhos tão miúdos e uma inteligência desconcertante vai se casar no próximo mês. E fala isso, assim, sem a cautela que retira o peso das ausências. Sem o compromisso de inventar uma história antes, só para dizer que se trata de uma brincadeira e que está tudo bem.
Ela sorri, enquanto fala sobre os preparativos e as preocupações que estão surgindo.
Como assim? Uma criança, meu Deus, falando sobre gerenciamento financeiro?
O que é isso? O que está acontecendo?
Quando a sua primeira sobrinha anuncia o casamento, você sabe que não importa o quanto ela cresça, ela sempre será a sua boneca de tranças brincando no sofá. Uma garotinha que agora vai brincar de casinha na sua própria casa.