Quarta à noite, véspera de feriado em Campinas, inauguramos um novo tempo aqui em casa e levamos o baixinho para nos acompanhar ao cinema num filme voltado para maiores de dez anos. Apesar dele só ter oito, conseguiu acompanhar as três horas de filme legendado e muito emocionante.
Por ser uma raridade em tempos que só assistimos animações da DreamWorks, quis vir falar do filme aqui para vocês.
É certo que não vou entrar em pormenores, nem relatar o final, mas como geralmente o que me cativa em qualquer história é o lado humano, é nele que vou focar.
O filme conta a história de um agricultor, ex piloto de testes da NASA, viúvo, pai de dois filhos, que se vê num dilema: aceitar embarcar numa missão espacial ou não. O maior desafio, porém, está na passagem do tempo. Enquanto para os filhos o tempo transcorrerá normal, hora após hora, ano após ano… para o pai, no espaço, o tempo transcorrerá mais devagar, no compasso de alguns minutos.
Num dos momentos, durante a visita a um planeta fictício, os astronautas se atrasam alguns minutos, e com isso perdem vinte e quatro anos no tempo da Terra. Para o pai, tempo precioso ao perceber que perdeu a infância dos filhos.
Enquanto o filho mais velho envelhece diante da tela do computador, enviando mensagens periódicas ao pai, a filha mais nova, ressentida da partida de seu grande herói, se recusa a enviar mensagens. Até o dia em que percebe que ela e o pai estão muito mais ligados do que poderiam supôr.
Enfim, entre suspense e lágrimas, reconheci um pouquinho de minha humanidade ali. E por isso me comovi diante da história do pai que perde a linha condutora da vida de seus filhos. De afetos que se perdem pelo caminho, como se o tempo corresse diferente para cada um.
Sempre imaginamos que teremos mais tempo. Que podemos deixar para depois certas ações, que elas se concretizarão naturalmente, dentro do nosso tempo. Porém, nem sempre o nosso tempo é o tempo que está reservado para nós. E é muita pretensão acreditar que podemos prorrogar nossos passos ou adiantar nossos desejos só porque acreditamos que domamos os relógios da vida e dos acontecimentos.
Cooper, personagem central de Interestelar, acreditava que ainda teria tempo de sair em missão e voltar para seus filhos. Acreditava que ainda poderia acompanhar a infância de seus meninos e ser um bom pai. Porém, não é o que acontece ( não, eu não estou contando o final do filme). Infelizmente, para eles é tarde demais.
É devastador descobrir que chegamos tarde demais. Que deixamos pra depois o que nunca mais poderá ser realizado. Que adiamos nossas vidas em busca do momento perfeito ou da hora ideal, sem perceber que a vida acontecia no aqui e agora; sem se dar conta que o presente era precioso demais para simplesmente ter sido adiado pra depois.
Querendo ou não, tudo gira em torno de uma balança. E definir nossas prioridades ou escolhas se torna essencial para decidir aquilo que não queremos deixar para trás ou chegar atrasados demais. Inconcebível seria chegar tarde para a infância dos filhos, para o relacionamento de nossas vidas, para as chances improrrogáveis ou momentos perfeitos que ditarão a eternidade.
Interestelar recusa a morte como recusa o fim de um tempo. Cooper, desejando salvar seus filhos _ e a humanidade _ do apocalipse que se aproxima, oferece-se para a missão _ a última chance de fazer aquilo que para ele é sua verdadeira vocação. Porém, ao perceber a velocidade com que o tempo passa para aqueles que ama, arrepende-se da empreitada e descobre que fez a escolha errada. Quer voltar, pois de nada adianta o tempo não passar para ele, se passa e leva embora aqueles que ama.
Assim, não há remédio que cure a morte de um tempo. Podemos brincar de faz de conta, mas ainda assim, temos que nos adaptar e ajustar ao que resta de nós apesar das perdas e despedidas inerentes a qualquer vida.
Interestelar é uma ficção que brinca com a ciência, mas acima de tudo fala de amor. Do sentimento que ainda move o homem e conduz suas ações. Do que motiva alguém a buscar a escuridão _ o buraco negro _ para trazer luz à sua família.
Recusamos a morte e queremos que o amor nos salve da vida. Buscamos a escuridão desejando que ela nos traga alguma luz. Desafiamos o tempo almejando desperdiçá-lo e guardá-lo no mesmo instante; corremos riscos para nos sentirmos seguros; nos perdemos para nos encontrarmos. Percebemos enfim que o triunfo da vida está no amor, nem sempre claro, nem sempre explícito, mas ainda assim, real.
Saí do cinema reconfortada por uma parte de mim ter sido acolhida naquela história. Uma parte de mim que se ressente das perdas, do que o tempo levou e não traz mais, das ausências, dos hiatos que se consolidaram com a distância. Porém, ainda acreditando no amor. Nessa força poderosa que nos torna homens. Que nos torna simplesmente e poderosamente… humanos.
Para adquirir o livro “A Soma de Todos os Afetos”, de Fabíola Simões, clique aqui: “Livro A Soma de todos os Afetos”
Vi o filme semana passada e saí do cinema frustrada por aquele homem tão cheio de amor, que embarcou numa missão por não pensar como pessoa mas sim como espécie e perdeu o melhor que vida poderia lhe dar. Sinti uma D or profunda por ele e penso que precisamos nos situar no nosso momento e buscar clareza para doar e ao mesmo tempo absorver o melhor que a vida tem a nos oferecer.
Você é fantástica. Pra você, minha admiração e respeito.
Beijo e upa forte.
😉
Olá Norma! Também fiquei frustrada ao ver que o final não contemplava a vontade do pai ou dos filhos. Que para eles foi tarde demais… Obrigada pelo carinho, por comentar com tanta doçura! Pra você a minha admiração e respeito também! Bjo e upa forte rs!
Fabíola, sem palavras depois desse texto, aplaudo você de pé. Sensacional! Que essas bênçãos sempre desencadeiem seus processos intuitivos, sempre tão importantes para você, para os que te cercam e acompanham. Equilíbrio e paz pra vc! Edson (https://www.facebook.com/nurseds)
Puxa Edson! Seus comentários sempre enriquecedores!!! Obrigada pela companhia, por estar sempre aqui e por tamanha sintonia! Bjo grande!
Fantástico texto e a abordagem sobre a história, parabéns Fábiola! Grato Anne Becker por compartilhar o texto comigo
Poxa Fabíola… Seu blog perdeu aquele ar de familiar que tinha antes. Muitas coisas confusas e propagandas, alguns texto que perdem para a doçura dos seus. Que pena… Fui perdendo a vontade de passar por aqui. Mesmo assim desejo sucesso e boa sorte no seu caminhar. Beijoca