Título Original: Get Lucky
Muito do que vi da vida aprendi através dos olhos teus. E reconheço que por diversas vezes duvidei se a irmã mais velha fosse mesmo eu. Porque recebi muito mais do que dei. E tive orgulho_ nunca ciúmes_ da cumplicidade de vocês. Cumplicidade de homens, meninos crescidos que dividem gostos, vontades, esperanças.
Partilhei muito também. Mesmo com as diferenças dos primeiros anos _ surrar minha boneca preferida continua sendo golpe baixo_ nossa cumplicidade cresceu, amparada em alegrias e tristezas. Surpreendente constatar como o amor entre irmãos se fortalece mais nas tribulações que na bonança! Nos unimos mais por dividirmos decepções e dores semelhantes; e amadurecemos juntos quando qualquer desilusão de um podia ser explicada à luz da adaptação de outro.
De vez em quando ligo o rádio do carro e toca “Get Lucky”, do Daft Punk. Então sigo meu caminho sorrindo por lembrar a música eleita da vez, trilha sonora dos últimos encontros e tardes regadas à cerveja. Foram tantas canções ao longo dos anos… Ainda crianças, a voz do nosso caçula anunciava a chegada na casa da vovó entoando Roberto: “Meu querido meu velho, meu amigo…” deixando vovô com os olhos marejados e vovó repetindo exaustivamente: “Meu céu é aqui…” Depois veio “Losing my Religion” do R.E.M, “Overkill” do Men at Work e “Blue Sky Mine” do Midnight Oil, entre outros (a memória resgata agora os sucessos mais antigos…)
Vez ou outra revejo o vídeo do meu casamento e o mais tocante é ver dois homens barbados chorando como meninos desamparados. Repito a cena inúmeras vezes e me emociono junto, assim como toda igreja diante de vocês.
Hoje, após turbulências e alegrias, nascimentos de nossos filhos, festas de família e despedidas importantes, agradeço a Deus pelo presente de ser a menina de nossa casa. A menina que dava broncas, brincava de ser mãe, corrigia tarefas e escondia os diários da curiosidade de seus olhos; mas que no fundo sempre gostou dessa bagunça, desse amor disfarçado de anarquia, dessa união camuflada de algazarra.
Algumas coisas são inexplicáveis pra quem está de fora. Existem códigos secretos que só pertencem aos que partilharam a mesma mesa, o mesmo quarto, as mesmas brincadeiras, os mesmos pais. Talvez cumplicidade e camaradagem sejam as palavras certas pra definir esse tipo de amor, que começa com um “não me entrega que eu também não te entrego”, e segue vida afora compreendendo os traumas ocultos, as dores disfarçadas, a raiva acumulada, a alegria infantil, a inércia justificada. Mesmo longe, as mãos se reconhecem e se apoiam. Mesmo sem palavras, o entendimento é real. E no fim das contas, é aquele olhar cúmplice (“não me dedura por favor…”) que nos levanta e aquece. É aquele olhar que justifica e valida a beleza da vida, do mundo, das pessoas. E, de alguma forma que não sei dizer, traz alívio e paz.
Não posso imaginar que aquilo que dividimos há tanto tempo me apazigue como fazem essas lembranças. Nada de mim está mais lá, apenas a memória de velhos pijamas de dormir e a voz suave de mamãe contando histórias pra explicar a vida e justificar o amor.
Obrigada meninos por dividirem tanta vida comigo. Por me permitirem entender que mesmo quando tem bronca, há amor. Mesmo quando tem intromissão, há cuidado. Mesmo quando tem desilusão, sempre haverá alguém entoando “Get Lucky”…
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Imagem de capa: Din Mohd Yaman / Shutterstock
Vc continua moderninha, hein? Agora com "Get Lucky", do Daft Punk, quem te aguenta? hahahaha!!! Bjoooo
Muito bom.
Hahahaha Vc não muda! Bjo Djalminha!
Obrigada Renata! Bem vinda!
Vi que aqui, além de interessante, é divertido!
😉
até
Fázinha,
Que texto doce, poético, emocionante!! Chorei e lembrei de cada pedacinho de história vivida com vocês!!
Você está escrevendo lindamente!! Parabéns e obrigada!!
Olá Susana! Obrigada pela visita! Bjs!
Carol!!! Que delícia sua visita aqui!!!! Obrigada por também fazer parte da minha vida… Amo muito vc! Bjs!