Chegando, fui surpreendida com “nossa” casa _ ex residência_ aberta a visitação pública, com decoração e venda de artigos natalinos feitos à mão. A senhora na porta convidava todos que passavam para subirem as escadas e conhecerem a casa centenária, tombada pelo patrimônio histórico_ a casa que morei.
Aceitamos o convite e entramos, meu filho e eu, enquanto o marido descarregava as malas.
Éramos visitantes comuns, mas dentro de mim um filme se desenrolava.
Seria possível os locais guardarem memórias? Em cada parede um pedaço de história? Haveria alma na casa? Seria ela um relicário de lembranças?
Não sei; só sei que através de panos de prato bordados à mão e papais noéis artesanais voltei ao passado_ meu passado que se tornava presente naqueles breves instantes de visitação.
Na cozinha vi minha mãe preparando o almoço enquanto me pedia para ajudar com os pratos. Vi meu filho correndo com meu sobrinho pela ampla sala e descendo para andar de velotrol no quintal; visualizei meus irmãos sentados à mesa em longas discussões sobre o passado e meu pai descansando na rede da varanda.
Não era assim tão perfeito ou bonito, mas é assim que gosto de lembrar…
E então haviam senhoras bordando, pessoas apresentando a casa, outras pessoas conhecendo cada cantinho. Olhavam com admiração, enquanto eu olhava com saudade.
Saudade de um pedaço de mim chamado “filha”…
Incógnita, passei despercebida e fui só mais uma na multidão, mas sei que aquelas paredes de alguma forma me reconheceram, e saí de lá com o peito apertado e os olhos marejados.
Não por não mais fazer parte, mas pela noção avassaladora de que a vida se renova, dentro e fora de nós. Irreversivelmente.
Creio que todos nós – dotados de alguma sensibilidade e percepção – em dado instante da vida nos deparamos com essa conclusão irrefutável: tudo se renova e a vida segue em frente.
Seus textos são de uma delicadeza cativante por tornarem poéticos e até mesmo nostálgicos para quem está aqui do outro lado da tela muitos desses momentos de intensa lucidez – em que o resgate das memórias nos lança para muito perto de quem também fomos um dia…
Continue se inspirando ao viver e compartilhando suas impressões e pontos de vista, quem tem o prazer de ler os seus textos agradece!
Abraço,
Rafaela.
será por isso que quando vamos falar da casa de nossos pais nos pegamos falando "na minha casa"? uma casa que foi minha uma vez sempre será minha?