Bagagem emocional, por Rafael Magalhães

Por Rafael Magalhães

Talvez seja essa a grande vilã dos relacionamentos. A bagagem emocional. O resquício, o trauma, as mazelas, as lembranças. Tudo isso gera insegurança e medo do novo. O medo do “de novo”. O medo de se entregar, de acreditar, de se dedicar e de se decepcionar.

E tudo isso porque alguém, certa vez, teve a infeliz ideia de dizer que é normal errar uma vez, mas prosseguir no erro é indigno. Tolice, eu diria. Não existem erros iguais, apenas situações coincidentes. Ninguém erra duas vezes igual porque não existem nesta vida duas situações idênticas, e mesmo se existissem, a pessoa com quem você está lidando não é a mesma e, sobretudo e o mais importante no caso, é que você não será mais o mesmo.

A cada erro um aprendizado. Cada vez que você acredita que será diferente, realmente há de ser. Talvez novamente não haja o final que você espera, mas haverá um final que você ainda desconhece e que irá te transformar em uma pessoa mais preparada do que é hoje. E isso, por si só, já vale o risco.

A bagagem emocional te aprisiona e te faz ser injusto. Faz com que você jogue as decepções de um relacionamento passado na conta de uma pessoa que não tem nada a ver com isso. Faz você duvidar da sorte. Faz você afastar uma pessoa boa da sua vida com medo de se decepcionar com ela, ou de causar essa decepção.

É essa bagagem que faz surgirem clichês do tipo: “Todo homem não presta” ou “Toda mulher é interesseira”. Superficial e tolo como tantas outras conclusões que se ouvem por aí. Não é todo homem que não presta. Talvez o que não preste sejam os seus critérios de escolha, ou os lugares em que você tem procurado esses homens. Já pensou nisso? E nem toda mulher é interesseira e, sim, você que faz de tudo para atrair as que são, mostrando mais o que você tem do que o que você é.

Comportando-se assim, não restam dúvidas quanto ao tipo das pessoas que irão se aproximar de você. O passado não pode fechar portas para o futuro. Ele apenas te direciona sobre quais novas portas abrir. Pense nas suas decepções passadas. Veja quanto que você se tornou uma pessoa melhor depois delas. Não valeu a pena? De que outra forma você poderia alcançar a maturidade que tem agora? Foi dolorido? Com certeza! Mas ninguém te disse que seria fácil.

É também por conta dessa bagagem emocional que surgem as fórmulas prontas. Não ligue no dia seguinte, tente não demonstrar interesse, cuidado com as palavras fortes, demore um pouco para responder… Fórmulas que deram certo em momentos distintos e com pessoas totalmente diferentes de você.

O mundo seria um lugar melhor se as pessoas procurassem ser mais verdadeiras e ficassem menos na defensiva. Menos fórmula pronta, mais cara limpa. Você gosta? Então diga! Está com saudade? Procure! Quer conversar? Ligue! Sem medo, sem frescura, sem orgulho, sem receio. E você que está recebendo tal tratamento, não seja estúpido e trate essa pessoa com a atenção e a verdade que ela merece. Coragem e transparência são itens raros nos dias de hoje, e não faz sentido você que reclama tanto de não poder confiar nas pessoas, não saber valorizar quando aparece alguém que te trata com verdade.

As pessoas parecem estar perdendo o hábito de lidar com a verdade, por isso ela assusta tanto. Não tenha medo de ser feliz. Mais vale um mês de alegria do que um ano inteiro de solidão. Ninguém sabe quanto tempo vai durar. Um casamento, um namoro, um romance, uma amizade, um amor, a vida. Tudo é passageiro e incerto. Mas o medo de acabar não pode nunca te impedir de tentar.

É comum ouvir por aí alguém dizer: “Terminei meu namoro de três anos. Não deu certo!” Não deu certo? Como não? Em tempos de casamentos que duram meses você me diz que um relacionamento de três anos não deu certo? Deu muito certo, caso contrário não teria durado tanto. Foi verdadeiro? Foi intenso? Deixou boas recordações? Então deu certo sim e valeu a pena. Se houve dor e decepção no caminho, é o preço natural que se paga.

Que venham outros amores, outros amigos, outros lugares e outros momentos. Que a dor de um adeus não seja maior que a alegria de um recomeço. Que o medo de errar não seja maior que a vontade de acertar. A vida vai ser sempre essa roda gigante e, se você não aguentar o frio na barriga na hora da descida, não vai sentir o vento no rosto e a sensação única da subida. E, vai por mim, a vista lá de cima é incrível.

Para mais textos do autor acompanhe seu blog Precisava Escrever.



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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