O tempo da paciência

Por Sandra Friethavia Obvious

“ah se já perdemos a noção da hora”.

No trecho da música “Eu te amo” de Chico Buarque, tempo e espaço nos remete à uma sensação de absoluta incapacidade àquilo que tinhamos por real. Quem nunca teve uma leve impressão, em ser um mero coadjuvante em plena dimensão “matrix” da coisa. Lugar este, onde as sensações remetem ao clássico Alice no País das Maravilhas, na busca desenfreada por uma saída. Paciência, tudo se ajeitará…

Por quilo quem não compraria? Mas é que tal produto (a paciência) sempre esteve escassa à humanidade. Entre o tic tac desenfreado das horas e o aperto no peito, optamos a agir por impulso, na prática de asneiras. Meu relógio ainda preserva a angustia acalorada de um horário que nos fizeram engolir em uma das temporadas. Preciso desse espaço entre as horas, pois sobre qualquer seja o acontecimento, o back será menor. Quem não quer o bem, o bom? Mas o imperialismo da mediocridade disfarçada em fast food, no já, na satisfação do consumo instantâneo, faz do homem válvula retirante numa busca insana.

Espera-se pela sexta-feira. Espera-se pelo fim do mês. Espera-se pelas férias. Espera-se pelo feriado prolongado,. A espera de um milagre, então, melhor nem comentar ( ) Porém, enquanto aguardamos, essa espera, tem o gosto da malfadada segunda que nos dilacera.

Vagar por uns tempos. Aproveitar o espaço ocioso que nos dão e perambular por vitrines, na tentativa de mudar o repertório, é necessário, mas saiba que o único modelo que te servirá, continuará o mesmo, a pele que te cobre. Ou seja, não há escapatória. Quem nunca ao caminhar, se deparou com a impossibilidade em não enxergar os vestígios do próprio rastro(?). Momento esses, que pensamos, – não há saída (!) Dai escandalosamente sobe aquela trilha, que eternizam certas cenas de filmes, decifrando o suspense noir. Cada um tem a sua. A minha, para esses momentos em que vemos apenas nosso pé atolado na jaca é … the The Great Gig in the Sky do Pink Floyd, tem carteirinha reservada no playlist. O corpo em dor se contorce e ela arremete ao clamor que enternece um coração de pedra. A angustia da alma musicada.

Paciência, sim, na paciência, nesse ponto aparentemente ocioso, que vezes levamos a mão desesperados na tentativa de saber se ainda há vida, reconhece-se o homem, sem vocação alguma para hibernar ( ) Paciência… é que na vida, ás vezes, esse é o único atalho, para se chegar lá.

O mundo esta uma loucura, aqui na terra dos Tupiniquins uma balburdia. É, não esta fácil para ninguém levar a vida, menos ainda o crono de suas esperas…

Em Assassinos por Natureza, um filme de 1994, puramente rock’n roll, dirigido por Oliver Stone, com um elenco fantástico que abrilhanta ainda mais ao filme (Juliette Lewis, Woody Harrelson, Robert Downey Jr., Tommy Lee Jones ). Uma de suas cenas, durante um dialogo. um apache fumando seu alucinógeno cachimbo, discorria sobre os tempos, a paciência. Confesso admirar quem consegue tal prodígio.

Quando nosso esforço em apertar o passo, descamba ralo abaixo (…) o dito, permanece ativo; – os ditos malditos, são esses que se enrolam, transformam e tem historia. Coisas grandes requer grandes esforços…

Como toda estação, diga-se de passagem, uma das piores ao imediatismo dilacerado pertinente ao ser humano, o tempo da paciência [espera] também chega ao fim.

Nem sempre damos a devida atenção para esse fator: Melhor é o fim das coisas, do que o princípio delas; em Eclesiastes li isso uma vez.

“To Everything (Turn, Turn, Turn) There is a season (Turn, Turn, Turn) And a time to every purpose, under Heaven”



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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