Engana-se aquele que ainda acredita que filmes de desenho são apenas para crianças. Tanto “Toy Story 4”, como outras animações da Disney, têm uma capacidade incrível de, por meio de histórias “simples” para as crianças, trazerem mensagens importantíssimas para os adultos.
Faça esse exercício e você se dará conta de que “A Bela e a Fera”, “Procurando Nemo”, “O Rei Leão”, “Mulan” e tantos outros nos proporcionam mensagens atemporais.
Com “Toy Story 4” não foi diferente. E estou aqui escrevendo um artigo exclusivamente sobre isso porque acredito que disseminar a incrível mensagem do filme é importante para todos nós.
“Toy Story 4” confirma: ter um propósito hoje não significa que ele será o mesmo para sempre.
O filme se inicia com Bonnie, a nova dona dos brinquedos do Andy, precisando enfrentar o jardim de infância. Receosa, a garota não quer ir à escola e Woody se vê na obrigação de ajudá-la a superar seus medos.
O brinquedo vai escondido na mochila da garota e torna o dia dela mais feliz – Bonnie cria um novo brinquedo, o Garfinho, que é literalmente construído com um garfo de plástico, palitos e outros materiais que ela encontra na escola.
Garfinho torna o dia de Bonnie muito mais alegre, no entanto, quando ele e Woody chegam em casa, começa o desafio. Garfinho não se identifica como um brinquedo e sim como um pedaço de lixo – o tempo todo ele quer se jogar em lixeiras.
Woody se vê na obrigação de manter o Garfinho a salvo, afinal, ele é o novo amigo de Bonnie – e a garota precisa dele para enfrentar o jardim de infância.
Fica claro ao longo do filme como Woody sente a necessidade constante de manter seu propósito vivo. E o único propósito que ele conhecia até então era o de fazer as crianças felizes – primeiro Andy e agora Bonnie.
Finalmente chega um momento da narrativa em que Woody reencontra Betty, a boneca que pertencia à irmã de Andy e que estava perdida há muito tempo.Desde então ela vive como um “brinquedo perdido”.
Esse reencontro desperta diversas dúvidas e questionamentos em Woody, que passa a enxergar as possibilidades diante de si de outra forma.
Woody: o brinquedo que perdeu seu propósito e se viu obrigado a se reinventar
Ser um “brinquedo perdido” é algo bem assustador para Woody e os outros brinquedos da Bonnie – eles estão acostumados e gostam viver em um quarto e tornar a vida de uma criança mais feliz, esse é o propósito deles.
Betty, por outro lado, é um brinquedo completamente independente e uma boneca empoderada, sempre vivendo as aventuras da vida junto de outros “brinquedos perdidos”. Ao longo do filme, ela e Woody conversam bastante sobre seus estilos de vida diferentes, o que faz o caubói começar a refletir.
O fato é que Woody sente que perdeu o seu propósito. Desde que Andy foi para a faculdade, nada mais foi igual. Bonnie tinha outros brinquedos preferidos e ele sentia falta de literalmente “servir a sua criança” e ser responsável pela sua felicidade.
Por mais que tente evitar tais pensamentos, no fundo ele sabe que precisa de alguma forma se reinventar.
O fato é que o brinquedo caubói de “Toy Story 4” realmente nos ensina muito sobre como lidar com a evolução do nosso propósito e a necessidade de nos reinventarmos quando menos imaginamos.
Lições sobre ser capaz de se reinventar ao longo da vida
Rapidamente, quando assistem ao filme, os adultos fazem um paralelo da situação de Woody com o que já viveram ou viverão algum dia.
Isso porque propósito e reinvenção são as palavras do século.
Todo mundo quer ter um propósito. Todo mundo quer acordar pela manhã e sentir que faz algo que tenha um significado.
E com Woody não é diferente. Ele quer resgatar o seu propósito de fazer uma criança feliz, no entanto, isso não parecia mais possível.
O mesmo acontece com nós. O propósito que temos hoje não necessariamente continuará fazendo sentido daqui a 10 anos.
As pessoas mudam, assim como as prioridades, gostos e objetivos.
E o que acontece depois que nos damos conta de que um propósito que tínhamos tão forte em nossas vidas já não faz mais sentido?
Acontece que precisamos nos reinventar. E se reinventar não é fácil nem simples.
Muitas vezes criamos bloqueios e medos. Medo de nos arriscarmos no desconhecido, medo de tentarmos algo novo, medo de não nos encontrarmos.
Woody também sentiu isso. E sofreu para tomar a sua decisão. Principalmente porque toda reinvenção exige dizer adeus para algo do passado.
Conforme mudamos a roupa, o endereço, os hábitos e os objetivos, deixamos algo para trás.
Os elos emocionais que “Toy Story 4” cria com os espectadores não se desfazem
O que acabamos de ver aqui são aprendizados que apenas um dos filmes da saga “Toy Story” nos apresenta.
Desde o seu lançamento, em 1995, sempre que assistimos aos filmes voltamos, mentalmente, a sermos crianças, porém, com o olhar reflexivo de um adulto.
Tom Hanks, que interpreta Woody na versão americana, participou de uma entrevista para o Adoro Cinema e uma de suas falas retrata bem o que sentimos quando assistimos aos filmes:
“Woody foi o melhor presente que eu já vi se desenvolvendo e crescendo muitas e muitas vezes, na minha família e ao redor do mundo”, conta Tom Hanks. “[Ele] é um personagem tridimensional que tem uma bagagem emocional que as crianças ainda carregam com elas. O que eu tenho apreciado de verdade é que não importa a sua idade. Quando você vê o filme, você tem a mesma idade que tinha no primeiro […], e sempre vai ser assim. De uma certa forma, todo o empreendimento da Disney gira em torno da ligação emocional que temos com cada um destes personagens.”
Crescemos e, de alguma forma, “Toy Story” nos acompanha até no nível de profundidade de reflexões – que vão evoluindo conforme a história se desenrola. Elas começam mais simples de certa forma, até se transformarem em questões mais complexas que estão relacionadas à vida adulta.
Falar de propósito e reinvenção é conversar diretamente com quem tem, no mínimo, mais de 20 e poucos anos.
Para o olhar infantil, a animação pode parecer simples ou apenas uma história fofa. Mas nós, adultos, que temos esse olhar mais demorado, captamos as mensagens que ficam quando a luz se apaga e o letreiro dos créditos se acende.
E a principal delas com “Toy Story 4” é de que todos somos ou seremos Woody em algum momento da vida. Podemos até ter o mesmo propósito ao longo de toda a nossa jornada, mas sempre (sempre mesmo) precisaremos estar prontos para nos reinventarmos. Isso é uma verdade absoluta e que o simples fato de viver nos obriga a encarar.
Afinal, se reinventar é sinônimo de aprender, evoluir e se transformar. E, convenhamos, a vida só vale mesmo se estamos dispostos a tudo isso.
Não deixe de conferir o trailer de “Toy Story 4”: