Talvez teria sido melhor se eu não tivesse questionado tanto.
Talvez teria sido melhor se eu tivesse calado (com algum placebo psicológico) uma voz interna. Talvez teria sido melhor eu não ter sido, desde criança, alguém que tentasse entender o porquê das coisas do mundo (não tivesse inventado uma lupa de olhar pelas fechaduras).
Talvez teria sido melhor eu ter abafado esse olhar que nasceu empático. Talvez teria sido melhor eu ter permanecido na superfície das pessoas, dos sentimentos, das situações.
Talvez teria sido melhor eu ter vestido papéis que me ensinaram (mas sempre me pinicaram a pele). Talvez teria sido melhor eu ter sentado na bolha protetora, dentro da zona de conforto do mundinho redondo e raso que sabe bem anestesiar as dores e inflar os egos do grupinho dos privilegiados.
Talvez teria sido melhor eu não ter notado num horizonte (mesmo que distante, e de caminho árduo de percorrer) a liberdade.
Talvez teria sido melhor se eu não tivesse aberto caixas de pandoras, armários que guardam segredos, se eu não tivesse dado espaço para selvagerias da alma.
Talvez teria sido melhor se eu tivesse me comportado (mesmo com uma dorzinha sempre latente no fundo da alma). Se eu tivesse feito da minha vida um roteiro óbvio a ser seguido (era só pegar o livro das grandes verdades), se eu tivesse confundido a mim mesma com os rótulos disponíveis por aí.
Se eu não tivesse brincado de ser legista de tudo que cai na minha mão.
Talvez teria sido melhor…
Só que não…. só que nunca.
A vida sempre pulsou (mesmo quando tentou ser ofuscada).
A vida sempre pulsa.
(E meus olhos sempre souberam que por mais que eu fingisse, meu caminho seria esse mesmo – árduo, profundo, corajoso, rumo à autolibertação).
E cá
e aqui estou.