Já disse mais de uma vez para Malena que adoraria gravar a risada dela e ouvir de oito em oito horas, três vezes ao dia. Aquela risada, alta ainda que doce, aberta ainda que íntima, é meu remedinho bom. Mais do que estar sempre atenta, espirituosa, mais do que cortar as bolas que a gente levanta, conversar com ela é incrível porque Malena, antes mesmo de aprender a rir dos outros, entendeu que incrível dom é saber rir de si mesma.
Destrambelhada, ela cruzou o baile de formatura com o vestido grudado na calcinha ao voltar do banheiro. Anos depois, entrou no carro estacionado que era de outra pessoa e só foi notar que o motorista não era seu marido, quando o Carlos bateu no vidro pelo lado de fora. Apavorado, coitado. Se ela me contar essas histórias cinquenta vezes, ainda estarei rindo da risada dela na quinquagésima tentativa de me segurar. Acho que nem tento mais. Malena é uma força da natureza, uma força tantã, mas inquestionável.
Mesmo triste, chorosa, dolorida, tentamos conversar sério por alguns segundos que, enfileirados um atrás do outro, não duram muito. Basta alguém soltar no ar a certeza de que ficaremos velhos comprando ração pra gato ao invés de comida congelada para dois. A gente ri por um tempão imaginando um procurando os óculos do outro, como quem se procurou por uma vida toda. Minha amiga me faz enxergar essa doçura que às vezes me falta.
Você não baixa essa bola nunca, garota? – indaguei roubando a batata frita dela. E ela me respondeu sem pensar por dois segundos sequer: se a gente enxergar a grandiosidade da vida, a preciosidade que é estar envolto pelas pessoas que amamos, a imensidão de possibilidades de descoberta, em quão vastos são os caminhos em todas as direções e em como a felicidade é simples de ser vivida, se a gente pensar seriamente nisso, passa a achar mesmo muito engraçado qualquer pequeno desvio de percurso. Eu rio, porque sei das artimanhas da vida. Eu rio porque sei que não me perdi, só me atrapalhei um pouquinho. Malena ria como um rio que entende a certeza de amanhã ser mar.