Ao som de um piano longínquo, escrevo uma carta que não será lida. Palavras perdidas em um papel, na tentativa já fracassada de comunicar o que eu não comuniquei enquanto você estava aqui.
Silêncios me acompanham dia e noite e não têm pena de mim. Sua voz ecoa em minha mente enquanto em pensamento eu tento reproduzir as cenas de um passado que não é tão distante mas que a cada dia mais se afasta de mim.
Eu achei que você seria para sempre e que sempre haveria um amanhã e uma oportunidade de vivermos tudo que a vida não nos permitiu viver quando era possível. Agora os tempos são outros e entre nós há uma crua impossibilidade do que antes nos era cotidiano. Ah, se eu soubesse antes que aquele dia chegaria e eu te veria partir… Ah, se eu soubesse que um dia eu veria suas roupas e não encontrar mais sentido pra elas… Ah, se eu soubesse antes que as fotos um dia seriam o que de mais valioso eu teria. Ah, se eu soubesse antes que a morte de fato existe e que o silêncio que ela deixa barulho nenhum irá preencher.
É difícil explicar o amor. Lembranças perdem seus contornos, seus detalhes e nitidez e no entanto o amor permanece, intocável, preenchendo o vazio que ficou, como se estivesse a dizer: “Ainda não acabou, eu ainda estou aqui”. E está mesmo, mãe. Hoje e sempre você está dentro de mim.