Recebi de presente de um amigo querido uma coletânea de filmes originais. Ontem assisti Medianeras_Buenos Aires na Era do amor Virtual, e fiquei apaixonada. A história é simples e comum, mas a forma como foi contada_com leveza, bom humor e delicadeza_ cativa do começo ao fim e é quase impossível não se identificar com as personagens, duas almas solitárias, sobreviventes de relacionamentos fracassados, que em meio à desorganização de uma metrópole se esbarram diversas vezes sem saber que estão destinados um ao outro.
Mariana, a protagonista , tem como livro preferido “Onde está Wally?”,e o enigma de tentar achá-lo na cidade grande ocupa seus dias solitários. Se nossa busca fosse essa, seria possível encontrar nosso “Wally” ou o início de uma história de amor em meio ao caos que construímos dentro e fora de nós? Haveriam “Wallys” camuflados esperando para juntar suas solidões às nossas?
Esbarrei com meu marido pela primeira vez aos 23 anos. Era 1997 e fui trabalhar num hospital grande, onde circulavam profissionais da saúde aos montes. A gente se cruzava pelos corredores e nos cumprimentávamos cordialmente; eu tinha uma vaga ideia do seu nome e eventualmente notava seu olhar, um olhar carregado de ternura que às vezes encontrava o meu. Nessa época eu era comprometida, estava apaixonada e tinha planos de casar. Porém, nem sempre nossos planos pertencem ao nosso destino…
Quando meu relacionamento acabou tentei estar disponível à vida, esperando que ela me surpreendesse. Desconhecendo fazer parte de um livro bem humorado, perdi muito tempo sofrendo, insistindo e me iludindo toda vez que pensava ter achado Wally mas inesperadamente o perdia na paisagem. O refrão dessa época era “Quem sabe o fim da história, de mil e uma noites de suspense no meu quarto? “… Parecia que fazia parte de uma peça engraçada e sofria bullying da vida.
Paralelo à isso, ia trabalhar. E todos os dias encontrava meu futuro marido nos corredores. Mas estava ocupada demais com meus sentimentos e pensamentos turbulentos: ansiosa porque tinha um encontro logo mais à noite; feliz porque o encontro foi bom; neurótica esperando um telefonema; triste porque ele não ligou; partindo pra outra novamente… Ia de triste, frustrada e sentimental pra alegre, ansiosa e feliz num piscar de olhos e nesses momentos estava tão entretida comigo mesma que passava pelo pai do meu filho sem notá-lo. Nesse ínterim passaram-se dois anos…
Não sei se existe destino ou é a ocasião que nos presenteia de vez em quando. Mas a vida tem dessas coisas, espera estarmos maduros, calejados e sofridos o bastante para reconhecermos o amor. E quando meu momento chegou me encontrou descabelada, tirando a touca profissional, sem maquiagem, com uma roupinha básica e muito cansada. Tão cansada que nem percebi a piada quando ele disse que precisava de um tratamento de canal. Solícita, só pude pensar em agendá-lo e fui surpreendida com um convite para jantar. Casamos um ano depois.
A vida gosta de sutilezas e fala nas entrelinhas. As respostas que buscamos podem estar diante de nossos olhos e não percebemos, ocupados que estamos com nossos egos, dores, buscas, anseios,decepções. Enquanto choramos no chão do banheiro por um amor perdido, alguém pode estar nos identificando em meio à multidão. Como dizia o filme, muitas vezes a arquitetura das grandes cidades reflete nossa própria existência, uma existência sem planejamento, como se fôssemos inquilinos de nossas próprias vidas_não os proprietários dela.
As vezes somos egóistas conosco a ponto de não enxergar o que está nítido a nossa frente para seguirmos a diante, nos escondendo atrás de fantasias ilusórias.
Oi Luciana, bem vinda!!! Pois é, gosto muito de uma letra da Legião Urbana que diz "Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo você me veio como um sonho bom e me assustei…" (Teatro dos vampiros).Estamos tão acostumados com o dia a dia que não percebemos o amor. E quando ele chega não somos capazes de reconhecê-lo.
Um abraço!