Porque a infância tem cara de pomar mas também de porão, e não dá para saborear o mel sem sentir ao fundo o gosto de fel.
Esse fim de semana estive em minha terra natal, no sul de Minas, onde fui visitar minha família, rever amigos e lugares.
Revisitando as ruas que foram testemunhas da minha infância relembrei personagens históricos do meu mundo, pessoas que povoavam minha imaginação como caricaturas de si mesmas, fazendo da rua um picadeiro e nós, seus artistas.
Senti nostalgia de um tempo onde aqueles personagens executavam suas ações com domínio, maestria e destreza. Hoje encontrei muitos idosos, perdidos na lentidão de seus pensamentos, esquecidos do encanto que exerciam. Outros, tive notícias de que já partiram_ cedo demais me adianto em dizer_ pois não faz tanto tempo assim que eram palhaços, saltimbancos, malabaristas da vida que levavam.
Mas a memória também traz de volta atiradores de faca, leões famintos, palhaços assustadores.
E a gente descobre que nem só de mel são feitas as lembranças. Que somos a soma dos medos, angústias e tabus também. Daquilo que não queremos revelar mas que se revela em nós.
De repente voltamos a ser crianças indefesas sem respostas diante da vida, saltimbancos sem argumentos perante o grande “Barão” que insiste em se materializar diante de nós, provando que crescemos, mas ainda temos medo. Somos livres, mas ainda vivemos no cárcere da emoção.
Texto absolutamente lindo!!
"E a gente descobre que nem só de mel são feitas as lembranças. Que somos a soma dos medos, angústias e tabus também."
Mas também, ouso dizer, somos o que fazemos e como lidamos com tudo isso…
Escrever é uma forma muito poderosa e criativa de enfrentamento e libertação!
Obrigada sempre!!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
escrever tem o poder de falar do futuro, tornando-o passado no momento em que lemos o que já escrevemos. é o poder do realizar! amo escrever, e saber que um dia alguém me indicou esse caminho.