Como pode o amor despedaçar?

O Amor tem disso, destruir-se por ser demais. Uma autoflagelação impensada, mas natural. Como pode o Amor despedaçar dois corações que amam? É irrisório tanta dor impregnada no sentir, são amargas as lágrimas que descem pela face tristonha e o peso da mala que carrega parece abrigar o mundo. Mas partiu. Foi ela e o Amor, de mão atadas, grudadas, impossíveis de separação.

Ela sempre voltava, bem posso dizer. Dois dias e a raiva ia embora, a saudade machucava e ardia em chamas por dentro, e ela voltava. Entrava porta adentro, largava a mala em um canto da sala e caminhava a passos lentos até o quarto, parando na porta e o olhando. Ele vazio, perdido em seu pensar, em seu pesar.

A separação nunca fora boa para nenhum dos dois, bem sei, mas era inevitável ela partir. Caminhava ao seu encontro e, ao lhe ver, ele sentava-se na beirada da cama, imóvel. Fechavam — juntos — os olhos e permitiam a boca calar a agonia, afrouxar a saudade quente e silenciar os desejos, transformando turbilhão em poesia.

Mas amar é doer-se por inteiro, tempo inteiro. E houve novas discussões, as cicatrizes foram reabertas, a dor voltava intensa. E a cena repetia-se novamente, um replay perfeito dos passos, das danças, das lágrimas, dos gritos e do silêncio modorrento.

Ela arrumava a mala, jogando as coisas sem ver. Penteava o cabelo, prendendo-o em um coque no alto da cabeça, pegava um jaqueta e, mala numa mão e jaqueta noutra, saía porta afora, com rios de lágrimas descendo, silenciosamente, no rosto, coração querendo rasgar-se de tanto doer. No corredor, olhava para trás. Para seu amor, assoprando-lhe um beijo de despedida. Era a garantia que tinha de que passaria, que a raiva não era definitiva e que tudo voltaria ao normal.

Só que, nesse último dia, ela não parou. Não olhou. Não se despediu.

Saiu sem olhar para trás, sem lançar um beijo de eu volto e caminhou, firme, arrastando o Amor consigo. Teria de ser assim, pensou. Era necessário partir para que o coração, dele, não mais se ferisse, para que as brigas não mais o desgastasse, para que ele não mais chorasse. Sim, ele chorava quando ela partiu, mas suas lágrimas seriam supridas com o tempo, esquecidas em algum lugar no pensamento e a vida, dele, continuaria. Afinal, o Amor estava com ela.

Ela fugiu com o Amor. Fugiu por amar demais.

Imagem de capa: KieferPix, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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