Minha vida não é um cinema mudo barato, desses preto e branco. Embora, às vezes, prefira a falta de falas e um dizer nos atos, eu gosto mais é da vida em cor. Vivi as emoções do meu primeiro amor, infantil e inocente, entre risos e mãos dadas e trocas de olhares, somente. E, descobri, anos mais tarde, que amor é outra coisa. Vivi amores impossíveis, possíveis, platônicos e inatingíveis e recordo de quase todos. Descobri a beleza de um sorriso, a intensidade de um olhar e a tristeza de uma lágrima quando deixei de ser uma grande menina e passei a ser uma pequena mulher, carregando a felicidade num sorriso de Monalisa, discreto e quase imperceptível, cheios de poréns e porquês.
Vivo tudo como se fosse a primeira vez e, confesso, seria mais fácil ter uma mente sem lembranças só para ter o prazer do tudo novo de novo ou, talvez, apenas para poder esquecer o inesquecível, guardar as dores feito poeiras e vê-las indo embora, iluminadas de sol. É que antes do pôr-do-sol perdi um amigo quase irmão e um avô quase pai e o vazio que ocupou o lugar do meu coração tirou meu sono madrugada adentro e chovi até desidratar, até não me restar mais dentro de mim. Aprendi a escapar no sal. De mim, deixei apenas a marca de uma lágrima e antes do amanhecer já era tempo de recomeçar.
Entenda que sou só uma garota ferrada procurando paz de espírito, tenho meu sonho de liberdade e não tenho medo de altura, mas tenho muito medo do impacto da queda. Apesar de, não deixo de arriscar grandes voos, só pelo prazer de admirar a paisagem e curtir a sensação de ser vento, de ser colibri e te conto, num sussurro manso, que os tempos tem sido difíceis para os sonhadores e que sonho, tempo todo.
E se fosse verdade que a minha vida é um filme, seria para sempre cinderela.
— Dança comigo num final feliz?
Imagem de capa: Fabio Pagani, Shutterstock