Não falta amor, em muitos casos esse não foi o problema dos casamentos que terminaram. Acontece que as pessoas pensam que não é preciso nada mais além de amar alguém.
O amor é o mais importante sempre, mas sem uma porção de outras coisas que sustentam esse sentimento, fica complicado sobreviver ao cansaço do dia a dia. E quem ama alguém, mas não lhe dedica tempo? E quem ama alguém, mas não tem paciência? E quem ama alguém, mas esqueceu de se declarar?
E quem ama alguém, mas não o surpreende? E quem ama alguém, mas faz da rotina algo chato e monótono? E quem ama alguém, mas faz amor sem afeto? E quem ama alguém, mas perdeu o gosto pelo café que se toma junto? E quem ama alguém, mas não divide as dores?
O amor é algo vivo e transformador, um sentimento capaz de mudar o mundo, de cessar as guerras, de interromper o ódio e de realizar os mais inacreditáveis milagres da vida. Porém, o amor requer atenção, exige respeito e se movimenta impulsionado pela dedicação.
O amor é a base das relações, mas não sobrevive sozinho. Além dele, a cumplicidade e a doçura fazem com que todas as noites ao lado de alguém sejam especiais. Enxergar de verdade quem está ao seu lado, como essa pessoa dorme serenamente, de que forma ela mexe os pés e como gosta de relaxar o corpo é muito maior do que apenas dividir o colchão.
É na simplicidade que o amor se sustenta, é no jeito paciencioso que você escuta os medos do outro, é no café feito do jeitinho que ele gosta, é na janta surpresa, é no passeio de mãos dadas naquele parque florido, é mais do que o dinheiro pode comprar.
É compreender os desafios de uma vida a dois e saber que a rotina pode ser muito especial. É entender que nem todos os dias serão bons, que nem todas emoções estarão afloradas e que é preciso ceder espaço para que o outro se sinta só.
A liberdade compartilhada também sustenta o amor. O diálogo e verdade deixam tudo mais fresco e higienizado. A alegria, as gargalhadas, o cinema fora de hora, as flores, os desejos realizados, o sexo e tudo aquilo que se alia ao tempo na doce arte de fazer durar.
O amor é a coisa mais importante, mas precisa sempre de seus pilares para se manter em pé. O respeito pelos gostos do outro, a dedicação para que ele seja mais e melhor todos os dias, o cuidado com a saúde, com o trabalho, com a vida daquele que divide o olhar com você.
Não sei ao certo, e talvez nunca entenda, como as pessoas deixam de dizer “eu te amo”, como se isso estivesse incluso na mente após dois, quatro, trinta anos juntos. O amor é para ser dito e você pode encontrar um monte de formas para fazer isso.
Não permita que o tempo faça você esquecer do bom dia, da ligação no meio da tarde, do “dorme bem”, do “se cuida”, do “estou com saudades” e do “não esquece o casaco”. Não a deixe sozinha no jantar ou deixe se ela pedir. Não destrate, mas se não puder evitar, peça desculpas.
Seja amoroso do seu jeito, sem forçar a barra, mas sem esquecer que a doçura é o que encanta a alma. Pegue na mão do seu amor e jamais deixe de saber o cheiro que a pele dele tem. Alcance a toalha, colha a florzinha, lave a louça, cozinhe, roube beijos, costure o botão da camisa, lembre-a do remédio, aproxime-se da sua família.
O número de divórcios ao ano no Brasil cresceu 160% e isso mostra que talvez não falte amor, mas a sustentação desse amor. Não sei se há segredo para os casamentos duradouros, mas aposto que também não há mistério.
Ame, mas ame com simplicidade, carinho, paciência, resiliência e lembre que o tempo passa e leva as coisas mais simples da vida, as únicas capazes de nos manter encantados, apaixonados e felizes.
Não sei como fechar essa coluna, pois teria mais mil coisas para citar aqui. Poderia fazer mais três ou quatro páginas com exemplos de simplicidade que alegram a rotina. Porém, quero apenas dar um conselho bem importante.
Em meio a tantas separações e distâncias, queira se casar.
Imagem de capa: Twin Sails, Shutterstock