Sim, eu sei que cansa, esperar esmorece a e dilacera a alma, mas te aconselho a não desistir do amor, pois uma hora sei que ele virá…
Mas por hora, o que vejo? Vejo sombras de mim mesma, refrescando e alimentando minha sobriedade, que caminha tranquila pelos bosques, esperando saudavelmente você chegar.
Eis me aqui, agora, sozinha. Posso dizer que existe alguma tristeza em mim. Existe também um espaço imenso, e um caminho que está sendo trilhado através de sua ausência, com a firme certeza de que você habita cada passo seguro que sigo trilhando em sua direção.
Nada do que estou vivendo é em vão. Prossigo, aqui, solitária, cantarolando com os rouxinóis que insistem em enfeitar minhas tristes manhãs. Apesar dessa tristeza sentida, sinto que nada em mim exala o sentimento reticente da nostalgia.
Certa tristeza é pela solidão que enfrento, contando sempre com minha alegria incontida que saúda a todos com sorrisos embriagados de ternura. Conservo minha paz de espírito, abrigo bons sentimentos, sereno e aplaco emoções desconcertantes, sublimo minha dor, pra que, quando você chegar, a primavera possa florir lindamente, aquecendo o inverno necessário que acaba de passar nas estações de minha alma…
Guardo a sete chaves minha retidão de caráter para que, quando nos encontrarmos, eu não tenha que esconder nada que poderia me afastar de você…
Sim, eu almejo alguém parecido comigo, alguém com nobres ideais, alguém tão parecido comigo que não me importarei se você for diferente de mim em alguns aspectos irrelevantes. Driblaremos juntos as dificuldades.
Seguraremos as mãos um do outro, para que nos asseguremos de que a tempestade que um dia nos visitará terá hora certa para despedir-se de nós. Sei que passamos por inúmeras decepções, que já fomos passados para trás, mas sei também que não podemos deixar de ter fé nas pessoas e na humanidade.
Sei que nosso sorriso é contador de histórias, que basta ativarmos os músculos de nossa face para que possamos esboçá-lo heroicamente. Sei que a vida é contraditória, mas não podemos deixar de acreditar nos devaneios que ela nos conta, nos mostrando que a arte de ser feliz advém de pessoas ternas e fortalecidas, através das advertências que reluzem um pouco de nossa sobriedade.
Apesar de tantas truculências, ainda assim, persistimos, ainda assim insistimos em lançar olhares sorridentes para as pessoas que partilham conosco suas vivências e experiências.
Pois sabemos compartilhar olhares que fortalecerão outras almas, sedentas de um pouco de calor humano. Sabe, quando você chegar e não será surpresa, não estarei desesperadamente te esperando, pois em mim habitará a tranquilidade de quem muito já sofreu e de quem muitos tombos na vida já levou.
A vida me trará você, como recompensa pela pessoa exemplar que me tornei. Exemplar no sentido genuíno da palavra, que será como reflexo de um bom exemplo para dar aos nossos futuros filhos e netos, ou a quem puder cruzar o nosso afetuoso caminhar. Isso trará recompensa, que será referência, capaz de tornar esse mundo um lugar digno de ser vivido. Direi a você então, que valeu a pena andar por essa mata não podada, que são as dificuldades que sofregamente já experienciamos.
Quando você chegar, te direi, simplesmente: Olá!
E você certamente me dirá olá, também. Assim então, com expressiva sintonia, iniciaremos um caminho novo, um caminho jamais trilhado, um caminho digno, que comportará a tranquilidade que trazemos conosco, amorosamente no peito.
Por enquanto, sigo tranquila vivendo os experimentos dessa vida, aprendendo com as dificuldades e andando nas entrelinhas desse tempo. Tudo isso somente para dizer que acredito que o momento de te encontrar um dia chegará. Esse momento será lindo, e mágico.
Guardemos essa linda chama, mantendo firme a esperança de que certamente o futuro esperará por nós, e então, como fontes de água límpida, mataremos nossa sede de amar, que nos protegerá de nós mesmos, abrigando receptivamente a ternura que já sentimos um pelo outro, mesmo sem sabermos exatamente do que se trata, mas mantendo convicta a certeza de que muito em breve nos reencontraremos.
Sigamos na temperança de alcançarmos, uma vez mais, o feliz reencontro de duas almas que já se conhecem de outros portais e que jamais desistirão da busca incessante de unirem-se amorosamente, novamente. Sejamos felizes com a certeza convicta de que o amor será a chave de partida desse grande calhambeque que sãos os sonhos vívidos de nossas almas, assegurando junto de nós a firme certeza de que o futuro nos alcançará alegremente, sem medir as consequências desmesuradas dessa grande artesã, que insistentemente chamamos de vida.
Brindemos à vida, brindemos ao amor! Ele virá sem que pra isso precisemos sentir nenhum tipo desmerecido de dor. Pois vivemos pela vida, mas vivemos, sobretudo, pelo amor que ainda virá, e nessa busca incessante, lhe guardarei nos pergaminhos desse tempo veloz, que nos aguarda ansiosamente nos caminhos que seguimos nessas andanças, lotadas de infinitas temperanças…
Vivo para te esperar, e ao te esperar, vivo por nós dois…
“Faz o que for justo, o resto virá por si só…”
– Johann Goethe –
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa / Texto de Thiana Furtado
Imagem de capa: Selenophile, Shutterstock
Lendo e relendo…